Miolando

31 outubro, 2006

T S Eliot dança- estalactites

abanar as cabeças cheias de vozes
de asas serpentes
sombrios traços

nodis de barrete vermelho
astérixes
medeias
asteróides

secas as vozes mur-
murar
o vento rente canta
a erva seca já quase

orfeu suspenso na corda da luz
sorri eternamente ao
crepúsculo vestido vermelho rosa da ternura.
e
ainda
o sol empalidece
o inverno a tecer

silencioso no tear de madeira
neve e gelo
gelo e neve
labirintos
sendo o que não se vê

bruxas em viagem. bailar como quem respira
emaranhada a clareira cheiros
fluidos
intemporais

pingos de chumbo branco a crescer nas árvores.
a própria terra uvas nozes castanhas contrai e
enrosca o sonho.

dilúvio e gelo
ash-wednesday
quarta feira cinza
lá onde se entranham e guardam
misteriosamente fechadas aos olhos e às mãos
todas as glórias solares incandescentes.














arribas do douro, miranda do douro, 2006

all hallows eve

As bruxas dançam
à volta da fogueira
nas cavernas
de pedra e musgo.
Riem para os mochos
que se riem delas
para os morcegos
pendulados ao som dos tambores
e das risadas cadavéricas.
Hoje não saem
há muito alvoroço lá fora...
T
a
l
vez amanhã com os mortos
v
e
l
a
d
o
s.

29 outubro, 2006

aquário e os outros

falo de signos, sem introdução. interessei-me pelo assunto e agora já não é fácil parar.
tudo começou quando encontrei uma agenda do ano passado oferecida por alguém perito na matéria.
utilizei a agenda ao longo do ano sem qualquer interesse particular. até agora!!!

foi assim: antes de a pôr nos papéis- adoro estar sentada no chão rodeada de papéis, na firme esperança de que vou (re)encontrar preciosidades e libertar-me de alguns antes que eles me ponham fora de casa a mim, abri-a mais para ver o que tinha eu feito pelo ano dentro, até que abri a agenda no meu próprio signo ao qual sempre me senti alheia e... pumba, lá encontrei uma pequena coisa que no momento era tão verdadeira mas tão verdadeira que perguntei: como é que "eles" sabem??? depois instalou-se-me uma tal anacronia e uma tal vontade de facultar aos distraídos colegas, nesta matéria, digo eu, uma achega neste delicado assunto que, aos poucos, lá hei-de encontrar inspiração...

espero que participem activamente, já que não faço a mais pálida ideia de como se "escrevem" os signos, muito menos de como se inscrevem os signos- sim, porque o que me aconteceu foi o meu signo increver-se-me
sem aviso nem autorização...

seguirei as datas e a ordem do protocolo, começando em AQUÁRIO e terminando no CAPRICÓRNIO.
bom, como não sei como vou pegar nisto, só sei que tenho que pegar, agradeço sugestões
até já!!!

28 outubro, 2006

semióticas cruzadas


não me olhes assim, já sabes o que aconteceu,
perdi-me em algum lado e já não sei bem aonde.
Niguem me disse como me vou encontrar outra vez.
Talvez disse e eu não quisesse, fiz ouvidos de mercador...


shhht, ouves? Está escuro lá fora, tenho medo,
sufoca-me esse escuro, tenho arrepios e suores frios.
Como é possivel sentir segurança assim?
desisto de mim, estou cansado...


silly things to talk about
in black &
white...

27 outubro, 2006

uma carta a pedido da destinatária

Existem coisas que não se escrevem, nós dois somos uma delas mas ainda assim queres que eu te escreva uma carta. Uma carta de jeito, dizes tu...

Sem histórias. Só factos, penso eu. Está bem, vou-te fazer a vontade com um sorriso nos dedos que batem nas teclas para não perder a objectividade que tanto me pedes.


Tenho vontade de bater em alguém. Esse alguém tem um nome que tu não conheces. Preciso de um motivo? Eu acho que não... mas é por causa de uma mulher. Comigo é tudo por causa de uma mulher. Uma mulher que já não me ama mas que gosta de usar a palavra "Amor" da mesma maneira que eu gosto de usar a palavra "foder".

Ela já se foi embora há muito tempo... mas o tempo, a mim, não me diz nada. Continuo a escrever-lhe cartas para uma morada que sei que já não é a dela. Patético?

Talvez... mas isso também não me importa. Escrevo porque já perdi a esperança e porque não tenho paciência para esperar pelas promessas ou sonhos de outra mulher.

As cartas não vêm devolvidas. Suponho que alguém as lê. Se assim é, fico contente porque ficar triste não ia adiantar nada.

Há dias tive uma surpresa. Uma carta dirigida a mim. No remetente podia-se ler "From one of your lovers". As palavras que trazia dentro eram doces e ternurentas. As palavras de outra mulher de quem gosto sem saber como e ainda sem saber quanto. Outra mulher que ainda não povoa os meus sonhos, que nem sempre são bons e quase nunca têm um final feliz.

Estou a ouvir uma canção que cantamos juntos no outro dia. Chama-se "Sozinho". Lá fora parou de chover, é pena... não vou a lado nenhum e ninguém está à minha espera.

Não é triste, é um facto...

26 outubro, 2006

nesta região que compartimos fora de horas

Sintra, 2006




"a anónima fundura das matérias naturais socava o

nosso direito a merecer um nome

eu tampouco o consigno, mas não sou quem pensades.

eu componho isto por encargo e orgulho, como os restos que vedes,

crendo protagonizar o tempo mas não perder-me na cidade.

escrevo para ser , por pratica o requisito

para render-me à realidade de que tenho um espaço que não é o de vós:

eu desprendo sobre as poucas coisas que sei e que mirades

uma linguagem chã, aferrolho-as com uma fala que vos deva ser modesta

porque transmudas curvas em assombros e cores em palavras."

do poeta galego Celso Álvarez Cáccamo, os distantes (1995)



25 outubro, 2006

dlim-dlão, rola rebola

Gosto de brincar com as palavras
como um gato com um novelo no chão
fazê-las rolar no papel
carvão do ponta a para rebolar e
de lá para cá
,lá para cá de
como o sino da igreja
badala sem cessar
ouço o murmúrio das letras
incessantemente a ladaínhar.
Elas dizem algo a deus
eu digo algo, adeus.

24 outubro, 2006

Manefasto abc... Funga aqui

Uma gota de azul, uma gota de agua, uma gota de rocha,uma gota de fonte. Um pedaço de vento, corrido, parado, uma vaga de mar, uma gota cheirada, um pedaço sentida. Espirro Santinho.

Uma roda dentada, uma roda rachada, meia roda com agua. Nada roda na roda. E move bem movido, trigo bem moído, passa a agua, foge o vento para a terra, dorme o fogo. Atiça-o, Varre o vento, aquece a terra, levanta o fogo, mais veloz, mais feroz, acalma a fera. Mera coisa. Espirro funga aqui Santinho.
20.10.06

Inscrições Abertas!

Estão abertas as inscrições para os cursos de escrita do Miolo! Se não quiser ficar de fora, dê uma olhada ao nosso plano formativo:

Práticas de escrita normativa
Os bons usos da língua portuguesa


Objectivos:
Dotar os formandos de ferramentas para melhorar a sua redacção em contexto formal ou em ambiente profissional.
Transmitir noções gramaticais e estilísticas necessárias para enfrentar com segurança a escrita de qualquer tipo de texto.

Horário:
Segundas, das 19:00h às 21:00h



Escrita para o Palco
“Shakespeare e a Invenção do Humano”


Objectivos:
Dotar os participantes de competências de leitura, análise e crítica dos textos de Shakespeare. Adaptar e reescrever esses mesmos textos de forma a produzir textos originais.

Horário:
Terças, das 19:00h às 21:00h



Escrita de Histórias Mínimas
Produção de narrativas breves


Objectivos:
Incentivar os participantes a desenvolver o seu próprio processo de escrita. Transmitir técnicas básicas de desbloqueio criativo e de produção escrita.

Horário:
Quartas, das 19:00h às 21:00h



Iniciação à Escrita Criativa
O Fazer Poético


Objectivos:
Manejar variadas técnicas e recursos literários. Desenvolver o domínio da língua portuguesa com exercícios práticos. Vencer os bloqueios de escrita com propostas de trabalho que apelem à imaginação.

Horário:
Quintas, das 19:00h às 21:00h



O prazer da escrita
Entre a ficção e a autobiografia


Objectivos:
Desenvolver trabalhos originais de criação narrativa, ficcional e autobiográfica. Conhecer possibilidades de usos da linguagem na sua máxima expressividade. Adquirir normas e técnicas facilitadoras da escrita. Usar variados modelos e soluções para a construção narrativa.

Horário:
Sextas, das 19:00h às 21:00h


Inscrições e outras informações:
E-mail: escoladeescritores@gmail.com

23 outubro, 2006

Estranha forma de Escrita

Em formato de rumor cor-de-rosa, e sem confirmação da veracidade dos conteúdos, fica uma fábula de uma escrita portuguesa...


http://freedomtocopy.blogspot.com/2006/10/estranha-forma-de-escrita_20.html

manefasto

Morram todas, morram pim!
as senhoras de tacão agulha diário e de casaco de vison
que não têm visão do mundo nem da vida
nem da alma nem do que nos move por dentro

Morram todos, morram pim!
aqueles que nos dão ânimo e esperança
e nos oferecem um tapete mágico e depois nos deixam levantar vôo
e depois nos roubam o tapete.

Morra tudo, morra pim!
tudo o que nos dá alegria e entusiasmo e depois desaparece
e nos deixa tipo um asno.

Morram morram morram
pim, pam, pum

cada bola mata um
para a galinha e para o peru
quem se livra és mesmo tu

de teres de aturar esta vida e esta gente

morram todos, morram todos
morram de vez PIM!

20 outubro, 2006

triticum-libertação-modificada

triticum ac 150mg
cloridrato de trazodone
comprimido de libertação modificada
gostava de saber das sombras e do céu limpo
dos sísifos engarrafadosos nas cidades
a viver organizadamente por dentro do vodka
por aí de-cal-ca-dos por aí re-cal-ca-dos

gostava francamente de saber mais da libertação modificada
das formas de interacção medicamentosa
das formas de interacção acidentosa dos géneros.
e ainda notícias do atalho translúcido da morfina, da povidona,

dos caramelos espanhóis e já agora
de como se modifica a libertação
e como embora não tenham sido registados efeitos indesejávais

porque raio a associação do trazodone com digoxina ou fenitoína, pode aumentar os níveis séricos destas substâncias.
tenho sérias reservas em relação a esta aparente evidência
não me parece bem intencionada
e é um assunto face ao qual
qualquer cidadão bem formado e responsável
deve permanecer inequivocamente
atento.





19 outubro, 2006

COGNIÇÕES. lamento muito.


retiro os anéis dos dedos: venho falar do fio onde nos devemos suspender.
será horizonte se o olharmos de frente.
venho falar do fio onde nos devemos suspender como um desequilibrista sem rede e/ou uma aranha com invertigens, um suicida à penúltima janela, uma saudade súbita em amante que trai:
os dedos com anéis dificultam a digitação e por tal os guardo porque o que pretendo escrever:
simples: directo:
assim o fio deve ser:
unindo claramente a língua à inquietação, inequívocamente os astros, todos, caibam no interior e no externo da erecta nossa cabeça (lá se guardam símbolos), no exterior e no interno da nossa cabeça erguida (lá desesperam fantasias):
concerteza a merda à virtude.
por pouco que eu deseje desejo tudo e desejo nada, o olhar dela e o seu buraco.
uma ligação honesta parecendo um fio eléctrico e uma ligação eléctrica: vermelho com vermelho preto com preto e terra (ligando à morte).
não tem que ser formosa, a linha.
não tem que ser lã rançosa.
a baba não tem que rimar (mas podem surgir quadras populares).
não tem que agradar a cediela aos peixes que na boca arrasta por anzol cravado no céu.
não tem que: ser apenas verdadeiro em nós, capaz de nos suspender sobre o abismo(jamais outro fio se partirá tanto).
como procurar é pergunta.
quem o faça lendo poemas.
como o descobrir é questão.
o meu fio sinto-o por cima e balança-me no ar sobre vazio em (frequente) amputação dolorosa de pés.
não sei que travessia faço nele, que trajecto faça.
não é um horizonte, tantas vezes olho para baixo o medo no fundo me borro, mas uma lâmina afiada onde os dedos se cortam.
o que de certa forma lamento.
magoa recolocar os anéis.
o que de certa forma parecem lamentar balanços vizinhos:
para dedilhar viola seriam mãos tão belas.
venho ainda falar e para terminar: vão-se os dedos e depois os anéis, de seguida os poemas e toda a teia (quer a bonita como a feia).
o que de certa forma lamento.
[casadoameal.oliveiradohospital.coimbra.19deoutubrode2006]

18 outubro, 2006



FORMAS BRUTAS


lentos círculos (dormíamos), desenhados pela sombra da águia cobreira.
rastejando, os mínimos passos agudizaram a caça (sem medo!).
nós gostámos do voo, do intervalo, enfeitando alguns dias com memórias discretas.

é belo o lugar do fim, onde os uivos das sirenes não chegam (ainda podemos).



dizem os filhos destes tempos (nunca lamentes) que pelas ruas de Nazaré,
vagueia,
em redemoinhos, o pó da aridez

que virá

em cosedura

Pelo picotado da janela
entram provas de luz
que se cosem para tecer
na tela do escuro.
Começamos a urdir o dia
a fazer a manhã em ponto cruz
a criar cenários em relevo
a cruzar linhas de novelos
em ponto pé de flor.
A baínha está alinhavada
a peça quase rematada.
Mas depois
cerzimos com linhas de uma cor
e depois de outra
e depois de uma outra...
a baínha fica em desfiado
o ponto por rematado
e a peça sem ponto de rebuçado!

17 outubro, 2006

carne



dEciDi
rEco meÇaR a

COMER

CARNE

COGNIÇÕES.


a evidência é uma imagem escorrida à janela da camioneta. molhada com velocidade. indefinida e dúbia percepção em solavanco, já passou. constância são evidências seguidas umas após outras até ao fim de viagem, assim como rasantes contínuas, onde se possam agarrar as mãos e pousar os pés na impossível certeza de algo a acontecer algo: a viagem sou eu dentro da camioneta em andamento a olhar para fora que é olhar para dentro. simples. ainda descubro verdades, afinal:
o cinzento;
e esquecer facilmente;
agarrar-me a ti, diria: um corpo só são vários sós, o resto não é zero, nem à chuva nem ao oco nem ao interminável manto negro que envolve a camioneta em viagem quer não se queira quer queira, agarra-te a mim, diria, simples, ainda descubro verdades:
como sobreviver à falta de eco: é que se não morre sem resposta: faltou um pé no deslize do equilíbrio quando na ravina ou a ideia já vinha com delirantes asas, o impulso já nos trazia de trás e - nestes acasos, pouca força contrária possui a hesitação ao percepcionar o fundo:
resvala-se no seu precipício negro peludo húmido, vacilando trememos, trememos esventrando-nos quando lhe subimos e descemos e subimos égua! cadela! puta! no desespero da salvação - sem eco dobram-se as costas de dor e a pele gelada e punhais na alma: simples.
e outras verdades: que a atenção à resposta ansiada jamais ensurdece.
que depois passa, escuta: "agora que termina o caminho e saio do autocarro em cidade perdida, a mão há muito tempo à chuva recuperada será gelada e molhada evidência. mas continuará mão. igual fenómeno acontecerá com a cabeça daqui até casa, os cabelos encharcados e amanhã uma febre. quem anda à chuva molha-se. e quem, continuará quem. a dúvida cartesiana será sempre uma dúvida. mas acho que amanhã se acrescentarão ventos fortes".
[casadoameal.oliveiradohospital.coimbra.17deoutubrode2006]

DESPERTADOR.

deus: danças, deus?
{casadoameal.oliveiradohospital.coimbra.dezasseisdeoutubrodedoismileseis}

16 outubro, 2006

pássaros da alma

"Também eu só agora desci, acredito que piamente em líquidos suspensos, em líquens suspensos do vazio esburacado dos dias existem pássaros de som que crescem na cabeça, no bico cristalino, que pedem a alma"

autor anónimo

COGNIÇÕES.


houve dias bons em que foste bom e estiveste bem.
os dias em mão e contar os dedos - são decerto poucos mas apanham e apontam e, graciosos, sabem tocar as cordas da guitarra e apanhar os seus seios.
gravar.
gravar e imprimir e ganhar com eles: não o dinheiro, os outros dedos da outra mão.
é enorme muito maior o corpo dos dias maus em que estiveste muito mal.
qualquer delete amputa ou deforma.
o pénis pela metade de pouco servirá.
faz dele outro dedo.

[casadoameal.oliveiradohospital.coimbra.16deoutubrode2006]

14 outubro, 2006

epidermes a título póstumo...

Cai mais um, um cabelo.
Uma pele morta, que se solta.
Vamos perdendo algo todos os dias,
Mesmo o que pensamos estar a conquistar.
Fios soltos ao sabor do vento,
Contra paredes e vazios,
Enchendo memorias o eterno baú,
Sendo que eterno o é até o tempo nos vencer.
29.07.06

umbigo
















não sei desta vez quais os nomes
mas só de cordões
eléctrodos que ligam à origem espécie
negro de despir árvores, brancas
formigas minhocas subitamente contorcidas à nudez do dia
grilos falantes
lágrimas de gelo
digo que nada deste lugar aqui
tem a ver com unhas negras
de escavar o profundíssimo mistério presente
da terra

es-cama


Filho de peixe peixinho é

o que foi peixe ja não volta a ser

porque foi escamado

e nada sem sentido.

13 outubro, 2006

DESPERTADOR.


hoje perguntei a deus (não me contive não me contive): deus: comprando a revista também a folheias em direcção à página última na procura de saber novas do teu signo (de certeza robusto e belo e seguro como um touro ou um capricórnio)? já aconteceu ter-se enganado em mim a carta lançada, o semanal destino errado por adiamento ou antecipação: imagina que a morte era para ontem. e em ti? é que estou atento. todos os dias atento. (e tú?)
{casa de são dinis.porto.15deoutubrode2006}

12 outubro, 2006

o retorno


fica um dos meus últimos registos...

menos tudo, os dias, as semanas, as viagens,
as horas perdidas em algo precioso que nunca vamos voltar a viver.
Menos cor, texturas, cabelos caídos, barbas cortadas, menos dor...
Alegrias, experiências, flores arrancadas e deixadas a murchar.
Menos eu, dia a dia, lua a lua, batidas passadas...
Menos caixas avulsas amontoadas num canto,
Nem rótulos nem palavras que as identifiquem
Não quero nada... vou dar tudo de mim.
29.09.2006

e só para ser caprixoso, um dos meus primeiros... num 29.09 também... foi a Sara que escolheu...

Tentei falar, mas não consegui
Talvez porque não tivesse coragem
Talvez porque tivesse que falar
Talvez porque não tivesse que viver
29.09.1997

quinta-feira

penso sempre num poema de só nomes dália
paulo patrícia miguel
inês
isa bel
dança lua
encantamento
cor de laranjas laranja
a tinta azul a escorrer dos olhos lu ís.
joão
mar ga ri da
helena euri dice
e outros que vou esquecendo na loucura esférica
que me toma os dias

11 outubro, 2006

COGNIÇÕES.

há um encaracolado de palavras num novelo que para pouco servirá para além do gato brincar.
elementar estrutura cognitiva tende a apontar:
não lhe encontro o fio: o seu corpo abre-se na mão e espreitando-o a questão mantém-se para lá do espanto:
o espasmo para onde vai o gozo para onde vem?
há mais de mil versos e a relatividade, com uma certa quantidade de lucidez, atira-os com os teus para longe do centro.
escrevemos todos num enorme livro uno?
nem todos, acreditem, fizeram fazem farão parte da história.
complexa estrutura cognitiva depois comenta:
faz o amor humilde; tem o teu simples orgasmo; brinca no seu pêlo novelo aos gatos na carpete.
não deve haver outra forma de regressar a casa nem de resolver por enquanto este texto.

[casadoameal.oliveiradohospital.coimbra.11deoutubrode2006]

10 outubro, 2006




O DISPARO

o momento abafado
a bala amolecida
na morte branca

ou rir da mesma vida?

DESPERTADOR.

hoje perguntei a deus (voltei a não resistir): deus: e quando o teu corpo se ergue?, ele que deve ser enorme e decidido como tú?: ao irromper-te, alongando,inclina-se em curva como o meu? é por isso que fazes o amor de lado? é que eu faço-o porque gosto.
(coimbra.10outubro2006)

09 outubro, 2006

idade d_escrita

de pequeno se torce o pepino
em adolescente se faz o pino
em adulto já se deve ter o tino
em maduro é o "ver se atino"
em velho é ver se não patino
e em qualquer idade
desejamos a lâmpada de Aladino.

08 outubro, 2006

DESPERTADOR.

hoje perguntei a deus (não resisti), deus: porque é que te levantas tão cedo? como consegues tanta força de vontade como se tivesses acertado (eu que atraso o despertar), porque te levantas tão cedo e calças as sapatilhas e sais a correr? vais treinar?
(para não engordar?)
(coimbra.8outubro2006)

06 outubro, 2006

chama, uma vez vi















uma vez vi um filme em que tudo era
branco
uma vez vi um filme em que pessoas
ardiam
uma vez vi um filme em que as pessoas flutuavam em emoções líquidas
uma vez vi um filme em que um rapaz vivia sozinho num farol
embalado pelo sal
e pelo vento sibilante nas ervas amarelas


uma vez vi um quadro sobre um punhado de areia que era praia
e um cão de cartão
e um homem de suor.
acontecia num espaço delimitado por bobinas e sons

era um espaço mental mais que um espaço físico,
habitado pelo homem em desespero crescente de comunicar consigo através do cão,

pesquisar o cartão, o calor de dentro do cartão
o suor do homem varre o chão as bobinas
que são flores secas mais tarde
som e fita, areia e cinza, suor

o homem nasceu nu e vai vestindo sombras
quando se envolve no cenário de plástico
fá-lo numa perfeita e visceral organicidade,
apesar das pétalas de chama que o consomem

há uma fénix de água marinha nas suas palavras
"strangely enough I am conforted by my smallness, and not for a moment dizzy or lost"
repete

e repete e repete infantil e sábio, muito perto da luz




03 outubro, 2006

re produção

deixei de espetar agulhas nos olhos,
agora
de atravessar a língua com fios invisíveis
cuidadosamente traçados da periferia do corpo
deixei-me de actos de crueza
encontrar outras formas de respirar longe de pessoas mirradas de ocasos
esmigalhadas no longo trânsito da vida ridículo apagadamente real
simetricamente indistinto
chocalhos ao pescoço garantiam-me a sua existência
numa gestação ameaçadora de grude larvar

olhar com pasmo aquele não perceber nada como algo
muito próximo por exemplo uma perna, um pé
também ser assim estava por inteiro, ampla e simpaticamente ao meu alcance
não sendo nada daquilo que alguma vez era
reaprendia a respirar francamente bem
remexidos por dentro os sonhos talhados na textura e no cheiro
a roupa húmida
acordavam da água lunar azul violeta turquesa
da água arrefecida profunda verde lunar

âncoras de um longuíssimo esquecimento
coisas simples claras de açúcar e limão

01 outubro, 2006

A ideia é a poesia como condensação. É bela porque torna claro o movimento da escrita que parece fixar-se, a partir de um fluxo interrompido, para se dizer e se negar, como se fosse só um ritmo. Ou uma desfiguração (condensação?) da voz…

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos exprimia muito bem essa poética de quase negação (é assim que devemos dizer?) quando escrevia:

“Há uma vaga brisa.
Mas a minha alma está com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito (…)”


Álvaro de Campos, Ode Marítima

Talvez os nossos poemas pertençam ao que se vê menos, como diz Campos. Vivemos aqui, ainda que por alguns momentos, num mundo iluminado e colorido pela poesia. Cada um de nós é o poeta.

ancurar





no final do Verão



quero a luz dourada
voltada para o azul do mar.


(foto: Ramarago.04 Concurso Fotografia Revista Cais)

Próxima sessão de Escrita Criativa

AVISO aos formandos

Diz o calendário que na próxima quinta-feira é feriado! Por isso, a próxima sessão de Escrita Criativa será apenas no dia 12...

Até lá, muita inspiração e
Dias Felizes!