Miolando

31 maio, 2007

Penélope ama-te


sabia ela mal
que amar-se
era amá-lo

sabia ele mal
que amá-la
era amar-se

sabiam eles mal
que amar
era ter cabelos de sangue
olhos vítreos
rosto de mármore
cadáver.
o

30 maio, 2007




antigamente




os dias eram lentos e longos

onde está esse gemido que te chorava


~


sons que se dilatam ao longo da tarde

o cheiro a açafrão a voz sob o rio


...


onde está a solidão

a linha da língua

traduzida em fonte


?



...escrevo-te agora sobre a pele nua...






/foto.klint.bistwud/





.

28 maio, 2007

CONVERSAÇÃO


Como poderemos falar se
as cordas se expandem e
nem deixam o arco

tocá-las?


Vibráteis, tensas e sem destino

soam as palavras que já sabemos, tal a difícil presença
de outros músculos ou pulsos pouco afoitos


Em comum temos uma demanda
de prazeres difusos

sobejantes
da espuma
da superfície



Vamos ocultando (como poderíamos dizê-lo, sem esta voz?) uma

harmonia dúplice,
amores
pouco evidentes e


tardes silentes que
a poesia esconde.



Nos dias mais próximos talvez ouças os gritos intensos das mulheres aquáticas

ou os faunos endoidecidos,
buscando a perfeição de corpos despedaçados
pelas bacantes.

Esta melodia vai fazer-te (assim!) cercar pelas fúrias, habitar pelos ventos e


então falaremos,
entre os sons inaudíveis da melancolia comum.

28.07

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27 maio, 2007

máscaras


daqui a pouco volto
daqui a pouco arranho
daqui a pouco
a ser eu
o pouco meu
o pouco a
o que arranha
cda.2007

em vocação

na vocação para lápide
~caminhamos
nas ruas escuras, pojadas
~vemos
janelas abertas
para dentro
em parelha das
em parede dadas
~recebemos
uma ténue luz
~queremos
a travessa r
buscar mais uma chama
que vela junto à pedra
nossa
o
avé~

25 maio, 2007

fuso horário

enquanto fiava o verde borboleta
picou-se no fuso
s
a
n
g
r
o
u
para o papel
o
o sangue secou
e a primavera
ficou ferida
ensaiada nos papéis

23 maio, 2007

PARTITURA PARA VIOLA DA GAMBA. marin marais.

enquanto preparo o instrumento, encero o arco
a sombra que me acompanha alonga os gestos na parede
os ruídos que me acompanham arrastam pés no soalho
e o silêncio

e o eco

e o silêncio

que balanço lança quem para um beijo feio
que falta de esperança provoca a paixão errada

enquanto afino as cordas
(qual delas me asfixiará)

casa de são dinis, porto. 23 de maio de 2007

20 maio, 2007

fios de deus


Amadeus
de seu nome
ressuscitou.

A vida por um fio
o corpo em fios
e as mangas compridas
egoístas
rendidas
rendadas se alongam
ocultam o dom

resta o sorriso
sobra a verticalidade
e nunca chegará a mortalidade.
o

ora ora, hélice pião...

o dragão rodopião
o gato e a misturadora
que devia ser uma cafeteira
...

19 maio, 2007

notas?

Hoje
esbocei o teu sorriso
no meu bloco.

Escrevi uma nota
de pé na roda
da tua boca:

Quero vê-lo mais vezes!

18 maio, 2007

SOLO PARA VIOLA DA GAMBA. monsieur de saint colombe le fils.

de nada serve o canto espetado no peito
não serve para estender roupa
não esgaça a luz
não faz teatro de sombras
não aquece o candeeiro
pouco sobrará que morrer com a cabeça ilusoriamente a sul
que algo do que se disser na tontura seja verdadeiro
porque este som
esta voz que te anoto e envio
o arco cruzando a corda
a lâmina cruzando o pulso
é uma luta perdida contra o andar perdida
a nota de uma melodia que jamais escutarás

casa de são dinis. porto. 18 de maio de 2007

16 maio, 2007

julgamentos


a ponta no céu,
o brilho no chão,
senta-te, cega-te.
levante-se o véu,
da auréola,
na auréola.

AULA DE GUITARRA. monsieur de saint colombe le fils.

a procura de magia pode fazer desaparecer o mágico
a melodia mais bela pode desorientar também o cantor
como se prende o sopro à melodia justa, numa suspensão sem engano?
são tudo possibilidades
o receio de que te escutando te siga
um medo enorme para o que a música de agora consegue

casa do regado. porto. 16 de maio de 2007

14 maio, 2007


POLONNAISE



Nos jardins de Warszawa
neva docemente

O frémito negro irrompe nas asas dos corvos.

Neva docemente sobre a mentira reconstruída

Como se fosse possível sobreviver
nas margens do rio

para sempre duplamente ofendidas.

fevereiro 06

poemas do crescente




13 maio, 2007


A planície amarela, perto de Varsóvia. Um abraço, do tamanho da Europa. Polonaises...

com título

Caminhava lentamente pelas ruas de uma cidade. Encontrei pessoas mas não lhes falei. Apenas, em as olhando, tive a sensação de já as conhecer há muito. Apenas, em as mirando, fiquei a saber o seu passado, a sua história. Saberiam elas a minha? As minhas?
Continuei e vi um casarão. "Um colégio", disseram-me. Imponente, intemporal, implacável, como convém a um colégio de padres e madres. Fiquei no portão, olhei pelas grades e vi os alunos a correrem, a esconderem-se no pinhal, a jogarem partidas de xadrez, a contarem segredos que só se revelam no seio de regras de jogo, enquanto o outro não avança com o cavalo e a torre espera pelo seu arranque.
Depois uni as partes separadas. As colunas distantes, aproximei-as.
E quando abri os olhos, estava perante um mar verde subindo em funil.
Estava no meio do caminho. Deitada. Deixada. Ali.
Levantei-me. Abri os olhos e estava no meu quarto de pé.
Não adormecera. Não piscava os olhos saídos da penumbra.
Apenas estava. Ali. De pé. De volta.

12 maio, 2007

coser o que se coze


Hoje
permiti-me
o suficiente
para que a alcofa
no meu colo
não se tornasse
uma alfineteira

de uma costureira
de
,
,
oooooooooooovoooooduuuuuu

11 maio, 2007

lição n.º um

the first scribble

09 maio, 2007

enlight ment








siamética-osmose.


de: sempre te segurar no fio triste


...


deserta de visibilidade.


de: no alto dos meus olhos de folha rever incrédula


...



a tua-existência-minha



...





:



escrito por luci às 21:41 | 8 comentários

08 maio, 2007

AULA DE GUITARRA. monsieur saint colombe.

quem me escreveu sobre as pontes? foste tu?
equilíbrio instável não é um poema (que é já uma das margens).
a ponte é uma necessidade.
um apaixonado pode demorar-se na ponte; um morto atravessando o rio, regressando em memória como tú.
mas um mortal não (nem o poeta): constrói a ponte e atravessa - para partir, para fugir, para chegar ao outro lado.
instável é o louco e o seu salto.
daqui a pouco saio e cruzo o rio na esperança de te rever.

casa da conchada, coimbra, 8 de maio de 2007.

Instantânea Reacção Solúvel

não sou formiga
não sou cigarra

lá se foi a fábula...

mas fabuloso
é que
em querendo
não conseguia ser nenhuma

uma por aflição
outra por afeição.

06 maio, 2007

sem fuga

contra o sol
contra o chão
sombras

temos de saltar
para o tapete

lado a lado

eu a_guardo
ela aguarda

nos nossos passeios

05 maio, 2007

PERDÃO

Em outro tempo, nas naves das catedrais,
com um certo declínio da luz, as aves ainda passavam, de partida (essas?).

Agora, adossadas ao meio-dia, mais a sul, ainda se levantam formações aladas. Sob o feno cegado e magro, fermentam, como antes, as pálidas primaveras.

Mas hoje, depois do estio fértil,
olhando os tímpanos esculpidos,

é sem culpa que abafamos os gritos das aves morrentes!

30.04.07




04 maio, 2007

AULA DE GUITARRA. Monsieur de Saint Colombe.

continuo a tremer com medo apesar da melodia bonita na cabeça.
não se pode brincar demais, da guitarra o som necessita da corda que o produza e esta do dedo que a belisque.
é necessária a corda para elevar e suspender a manhã; ou descer.
mas os dias são dias e mais do que nós, não se deve jogar em excesso.
se o dedo se esquece.
se a corda se parte.
se o teu corpo se quebra.


oliveira do hospital. 4 de abril de 2007.

03 maio, 2007

g de gato








....................... ..a
....................... .....g
g.. de.......f..u

rain of light

depois da chuva
a gema coze
a clara abriga
e protege
até ao momento
em que caem chuvas
correm rios
e se vê a luz

histérica sofreguidão
.
o

02 maio, 2007

AULA DE GUITARRA. concerto barroco.

enquanto toco
finjo que não percebo o gato que entrevejo aflorando a margem da tua pele
passando de janela em janela preparando-se para saltar e fugir pela varanda
como um silêncio súbito
um silêncio susto que perturba o canto

casa da conchada, coimbra. 2 de maio de 2007

white lillies


à falta de sol
oscultam o solo
corcundas
de cabelos caídos
o
a erva é terrena
e a terra não a querem
o
brancas
querem pureza
mas procuram
um sinónimo extinto.

01 maio, 2007

elemento


pega numa pedra
pega no intento
pega na cor da telha
no brilho ao relento
pega na textura, nos poros
no cheiro das entranhas no primeiro
estende a tua mão
encosta a cara ao chão
faz de tudo isto o novo elemento