Miolando

18 outubro, 2008



durou tantos anos aquela lição

crescia devagar como a erva do quintal
espremia as espigas verdes
à espera da água
e via os versos dos poetas a dançar
na boca do vento

aprendíamos a lírica trovadoresca
e pedíamos que ele fosse assim
feito de fontes de danças
de água e de tranças
e que todos os dias
parasse um bocadinho de crescer
só para termos tempo de correr para o sol
e agarrarmos um verso mais
para a nossa canção

luz-flor

luz-flor

.
flor de luz


essa água livre que recolho para lhe dar um único banho
essa que do riso recolho todas as noites,


muitas ânforas se alongam agora esguias
se assinalam assim a meu lado,


ele vem cansado de tanta viagem, de tão longo caminho sem fontes.
a cada dia a água que ri e a água que chora ganha novo perfume, esse fio de aroma,
essa lua bordada na curva dos olhos ele


recolhe ainda um éter de estrelas que mistura na cruz sobre o peito, saliva,
lenta aguarela que acorda a ave, traço a traço, pena a pena, pequenina completa ave
( e ninguém há-de entender porque somos felizes e rimos,

porque atravessamos com mil cuidados riachos onde os pés sobressaltam,
porque cantam as últimas chuvas enigmas de rãs e limos,
porque tudo estava há tanto tempo na mais antiga escrita, tudo, na mais antiga escrita, escrito.