erva, dentes
às vezes parar de respirar para ver o que acontece as fontes às voltas, o cântaro de barro, ânfora, numa dança louca, às vezes correm palavras que ardem que enleiam que prendem, às vezes
um dia qualquer ando mais à procura de quê, vidro, translucidez, a ânfora intacta e pousada nos aros de metal, vejo a transfusão da água, reparo na pressa da deslocação, é e já não é, vamos
mistérios e milagres é bom não falar, presságio, enguiço, afinal entreaberta nos olhos a janela das coisas líquidas e azuis, transparente, inevitável o fogo logo traz cinza, ocasos urgentes em qualquer tempo, verão, primavera
as pernas esticam crescem sobem trepam, bright red, "to hell with small literature, we want something redblooded", libertar a queda total, a preguiça total mergulho, rainfalling, passar por entre as gotas, neves
às vezes querer sobretudo os erros todos os erros num imenso erro, cortes epistemológicos, morfológicos, semânticos, esfuracar as dimensões até ao intragável ser cada vez mais perto do indizível
a intensidade que lavamos os dentes, mastigar restos de dedos triturados num minuto qualquer ao som duma música que não sai nunca mais por mais que se esfregue com as lixívias dos dias
não aprender nunca a não quebrar o silêncio, não tecer os fios deixar para sempre enrolado o novelo pressentir mais que a vida não pode deixar de ser apenas transformar quase silêncio e luz às vezes luz, sabemos
a sangue na boca ainda à procura duma chave qualquer, identificar o espanto,engolir à pressa, passar por trás da cortina do vento, ouvir os pássaros, de que líquido suspenso a voz do musgo a crescer descontrolado no pequeno degrau
Só para dizer...
Abrir os braços, sentir a ventania, ir contra a grande e forte brisa. Ver a bandeira amarela, mas entrar e mergulhar na rebentação forte, andar com a corrente contra a corrente. Ver o silêncio e querer quebrá-lo sem o magoar. Querer errar tudo de uma vez só, esgotar o erro para saturar a correcção. Ouvir as gaivotas, sentir o murmúrio da sereia a hipnotizar-te o corpo, olhar para o nada para ver se o vês. Querer lá voltar, revoltar, mas fica-se suspenso naquele segundo de hesitação.
As tuas palavras puxaram estas...
teclado por patricia, em 01 setembro, 2006
É, este texto pede tudo o que a alma pode dar...
teclado por Anónimo, em 01 setembro, 2006
pois pede, Miguel, às atordoadas e inquietas das almas (perdidas para sempre, amén...?!)
teclado por ~pi, em 02 setembro, 2006
Ser cada vez mais a caminho do silêncio o que percoremos até lá chegar, ir deixando sinais, será para isso que escrevemos então...?
Não sei se importa perguntar porquê, talvez, às vezes e no entanto, para quem quer ler, o mais profundo eco a descobrir-se...
teclado por Anónimo, em 06 setembro, 2006
Patrícia, ainda bem que as minhas palavras puxaram alguma coisa...
Deixar sinais é uma forma de mostrar que andámos por aí, pois...
porque não, porque sim???
teclado por ~pi, em 10 setembro, 2006
Voltei hoje a este texto com algum espanto e nem sei, de facto, donde me vem a vontade, por um lado, seguida da impossibilidade de o (re)comentar... da " intensidade com que lavamos os dentes", do "sangue na boca?", do...do quê?...
teclado por Anónimo, em 16 setembro, 2006
Também eu só agora desci, acredito que piamente em líquidos suspensos, em líquens suspensos do vazio esburacado dos dias existem pássaros de sons que crescem na cabeça, no bico cristalino, que pedem a alma.
teclado por Anónimo, em 02 outubro, 2006
também eu agora voltei para descer, re-encontrar o encontro gente sem nome e os pássaros sempre, no fundo algo de mortal e rasteiro nos sussurra sobre quem é quem, deixa lá, deixa lá...
teclado por ~pi, em 15 outubro, 2006
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