Miolando

03 agosto, 2006

ai as férias!

Sim, claro que há inveja aqui! E não sei se só falo das vossas férias...desculpem o mau jeito, mas gosto des-con-certada-mente de amarelo.

Pois, estão todos por aí, eu também vou estando por dentro de mim, presente e ausente, quando repito interminavel os gestos prescritos e proscritos de todos os dias, irreconheço lugares e pensamentos de sempre, as mulheres que anseiam à porta das lojas por um cavalo branco mesmo que não branco, azul, mesmo sem cavaleiro...

A vida a entristecer um pouco mais ao cair da noite, já quase a desejar os rumores das praias apinhadas, suspender luas no ranho dos meninos, sentar-me entre as famílias que sussurram entre si, que gritam silêncios de cimento, se pudesse matava-te, se não tivesse medo que alguém reparasse, torcia-te o pescoço aqui mesmo e ia para casa a correr,andar nu , dançar, sim, já quase a desejar ser eles quando me olham com olhos de animal espantado, pontes fora, ruas dentro, virar ali, a mesma porta, os mesmos traços,a mesma perna para fora do carro desembrulhado doutros carros agoniadamente iguais...

Porque ando a frequentar funerais nestes dias de verão e pergunto ansiosamente a toda a gente como se chora, se ainda se chora? ainda se pára nestes dias gerais das férias para ficar muitas horas no silêncio? como podem os cadáveres caber no verão quando o vento mal se pres -sente e no entanto é capaz de furar os olhos e atravessar a língua? Mesmo as palavras estão agora relaxadas, pouco o reboliço, o fogo arde amarelo, papel, palavras contorcidas, pois que seja verão...

Só para dizer...

  • é preciso engolir em seco e ganhar coragem de impulso para comentar este texto. Faz-me lembrar muito as reportagens fotográficas. Dizer preto e violeta com amarelos e azuis celestes... mostrar a terra revolvida junto às lajes, e pairar no ar o cheiro doce das flores frescas, renovadas regularmente, enquanto a rotina não se perde no tempo... A vida não para ir de férias.

    teclado por Blogger joel faria, em 04 agosto, 2006  

  • eu quero muito que os meus funerais fiquem algures no tempo. Ali mesmo. Mas sim, ainda estou inerte, na "terra revolvida junto às lages". Obrigada.

    teclado por Blogger ~pi, em 07 agosto, 2006  

  • Texto duro de roer, principalmente pelo AMARELO. Dá cabo dos olhinhos, parace que foi essa a intenção, só hoje é que consegui...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 31 agosto, 2006  

  • vim cá abaixo ver a nossa história.

    claro que a intenção damarelar a escrita foi que ninguém conseguisse ler e/ou, caso conseguisse, ficasse ceguinho.
    (por uns minutos, claro!).

    é que é assim que a luz se faz às vezes...por acaso, a mim, não se me fez grande luz, concluo agora.

    teclado por Blogger ~pi, em 19 novembro, 2006  

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