Miolando

14 agosto, 2006

mergulho (a água está fria a alma está quente).


vamos pela manhã e depois é tarde: o impulso e depois é tarde, vamos no ar e depois é tarde, suspensos e depois é tarde, fazer assim com os joelhos: mas antes assim com a inconsciência, dobrá-la e lançá-la para a frente assim, empurrando de espanto o corpo: um susto e é já tarde, estamos no ar e é já tarde, bater os braços de nada serve, melhor afilá-los em pontaria errada, o ar que for é, a altitude que for será, a queda que será forá, a pancada do furo e da falta de ar, de nada serve à asfixia a barbatana e o bruáá, o ruído surdo do fundo embrulhado na onda que nos atropela, o olhar perdido, o olhar trocado, a cabeça gelada, o equilíbrio tonto em recuperação e é já tarde, já final do sol, pôr-do-dia quando formos completamente de novo em pé, menos peixes de novo homens de sal em direcção a ti onde que aguardas na areia.
por muitos sorrisos ao sol, por muitos banhos que me dês, juro que hei-de escapar desta praia, juro que depois é tarde.

[praia da amorosa. viana do castelo. 13 de agosto de 2006]

Só para dizer...

  • Natália Correia:

    " Mordeis-me a cauda do fato de sereia?
    Que importa! Eu vou no voo do condor.
    Escureceis-me o verso onde clareia
    A estrela que me deu um trovador?

    Que importa! Eu vou no vento. A lua cheia
    Dos meus cantos está no seu fulgor.
    Que importa a fama - o uivar da alcateia?
    De sons vácuos o efémero tambor.

    Que importam vãos sinais: menos ou mais
    Eu estou nos quatro pontos cardeais
    Prometida ao mundo dos assombros.

    Ubíqua de origem e de futuro,
    Irei na profecia. Eu sei, eu juro
    Pelas estrelas que hão-de levar-me aos ombros."

    teclado por Blogger ~pi, em 14 agosto, 2006  

  • A água está sempre fria, gelada. Sentes o esqueleto dos pés como se estivesses a ver uma radiografia! Pé ante pé entro. Mão ante mão afasto a água da minha frente. Espero que o corpo se habitue...mas não há forma de. Só de cabeça, sem pensar, sem consciência... aqui vai! E aqui fica tudo num turbilhão.
    De volta à areia, peixes a salgar ao sol. Por muito que escapemos é ao mar que voltamos sempre.

    teclado por Blogger patricia, em 15 agosto, 2006  

  • alô luci e patrícia, agradeço as águas e o sal na boca, alô miguel, abraço grande, encontrei a casa e já ofereci.

    teclado por Blogger Paulo Alexandre Jorge, em 16 agosto, 2006  

  • ainda bem que cheguei a tempo...

    teclado por Blogger Elipse, em 20 agosto, 2006  

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