Miolando

17 outubro, 2006

COGNIÇÕES.


a evidência é uma imagem escorrida à janela da camioneta. molhada com velocidade. indefinida e dúbia percepção em solavanco, já passou. constância são evidências seguidas umas após outras até ao fim de viagem, assim como rasantes contínuas, onde se possam agarrar as mãos e pousar os pés na impossível certeza de algo a acontecer algo: a viagem sou eu dentro da camioneta em andamento a olhar para fora que é olhar para dentro. simples. ainda descubro verdades, afinal:
o cinzento;
e esquecer facilmente;
agarrar-me a ti, diria: um corpo só são vários sós, o resto não é zero, nem à chuva nem ao oco nem ao interminável manto negro que envolve a camioneta em viagem quer não se queira quer queira, agarra-te a mim, diria, simples, ainda descubro verdades:
como sobreviver à falta de eco: é que se não morre sem resposta: faltou um pé no deslize do equilíbrio quando na ravina ou a ideia já vinha com delirantes asas, o impulso já nos trazia de trás e - nestes acasos, pouca força contrária possui a hesitação ao percepcionar o fundo:
resvala-se no seu precipício negro peludo húmido, vacilando trememos, trememos esventrando-nos quando lhe subimos e descemos e subimos égua! cadela! puta! no desespero da salvação - sem eco dobram-se as costas de dor e a pele gelada e punhais na alma: simples.
e outras verdades: que a atenção à resposta ansiada jamais ensurdece.
que depois passa, escuta: "agora que termina o caminho e saio do autocarro em cidade perdida, a mão há muito tempo à chuva recuperada será gelada e molhada evidência. mas continuará mão. igual fenómeno acontecerá com a cabeça daqui até casa, os cabelos encharcados e amanhã uma febre. quem anda à chuva molha-se. e quem, continuará quem. a dúvida cartesiana será sempre uma dúvida. mas acho que amanhã se acrescentarão ventos fortes".
[casadoameal.oliveiradohospital.coimbra.17deoutubrode2006]

Só para dizer...

  • pois, pois, nada demais, oco manto negro, agarra-te (entreparentes(!), como te atreves a falar da falta de eco?) escreve, escreve pela sobre-vivência de género, da literatura, dos punhais, da gélida pele e, last but not least, a favor das gripes!!!

    e essas camionetas, vestibulares zonas de pensamento febril, húmidas e sombrias, ó meu delirante amigo, como de cinza se entende, como da cinza se estende...

    ps: isto aqui não falta nada: época romântica, pura e dura, só falta alguém a morrer de tuberculose, vade retro!

    ps2: Paulo, estou completamente apatetada, hoje, o que escrevi, tens que ler em retro-versão. BEIJO

    teclado por Blogger ~pi, em 17 outubro, 2006  

  • nostalgia? acho que entendo a tua inquietação. e foi tão fugaz o que suspeitamos das nossas escritas. a luci tem razão. apatetada eu também.beijoigual

    teclado por Anonymous Anónimo, em 17 outubro, 2006  

  • Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    teclado por Blogger ~pi, em 18 outubro, 2006  

  • Simples, não simples, pensamentos que escorrem da cabeça com a chuva e saltam a galope das palavras...
    Abraço

    teclado por Anonymous Anónimo, em 18 outubro, 2006  

  • Speachless....
    Adorei a foto!
    De facto os transportes públicos, onde pública se torna a viagem de cada um de nós, são uma fonte de ideias e de pensamentos. É o que ajuda a passar o caminho e o que por vezes nem nos deixa ver que ele já passou. Para mim tem sido o metro ultimamente...mas estou de volta aos autocarros!:)

    teclado por Blogger patricia, em 18 outubro, 2006  

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