Miolando

01 outubro, 2006

A ideia é a poesia como condensação. É bela porque torna claro o movimento da escrita que parece fixar-se, a partir de um fluxo interrompido, para se dizer e se negar, como se fosse só um ritmo. Ou uma desfiguração (condensação?) da voz…

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos exprimia muito bem essa poética de quase negação (é assim que devemos dizer?) quando escrevia:

“Há uma vaga brisa.
Mas a minha alma está com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito (…)”


Álvaro de Campos, Ode Marítima

Talvez os nossos poemas pertençam ao que se vê menos, como diz Campos. Vivemos aqui, ainda que por alguns momentos, num mundo iluminado e colorido pela poesia. Cada um de nós é o poeta.

Só para dizer...

  • ´
    ..." mas a minha alma está com o que vejo menos..."

    bom de saber, bom de lembrar às vezes, dias como hoje, ausentes de luz ou de olhos que a olhem.
    beijo, Dália

    teclado por Blogger ~pi, em 02 outubro, 2006  

  • obrigada luci. beijo igual.

    teclado por Anonymous Anónimo, em 03 outubro, 2006  

  • douro sénior visitou o blog...vamos falando!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 03 outubro, 2006  

  • Nenhum poema pertence ao que se vê menos, antes ao que mais se vê, porque, embora nem sempre revelado, não perde existência, uma existência sempre possível de ser revelada...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 04 outubro, 2006  

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