re produção
deixei de espetar agulhas nos olhos,
agora
de atravessar a língua com fios invisíveis
cuidadosamente traçados da periferia do corpo
deixei-me de actos de crueza
encontrar outras formas de respirar longe de pessoas mirradas de ocasos
esmigalhadas no longo trânsito da vida ridículo apagadamente real
simetricamente indistinto
chocalhos ao pescoço garantiam-me a sua existência
numa gestação ameaçadora de grude larvar
olhar com pasmo aquele não perceber nada como algo
muito próximo por exemplo uma perna, um pé
também ser assim estava por inteiro, ampla e simpaticamente ao meu alcance
não sendo nada daquilo que alguma vez era
reaprendia a respirar francamente bem
remexidos por dentro os sonhos talhados na textura e no cheiro
a roupa húmida
acordavam da água lunar azul violeta turquesa
da água arrefecida profunda verde lunar
âncoras de um longuíssimo esquecimento
coisas simples claras de açúcar e limão
Só para dizer...
Nunca esgotar cores e frutos, há um dia em que se cria sangue e veias lá dentro e se faz, talvez, um corpo simples, cristalino, talvez da mesma matéria da lua e das linhas imaginárias da transparência...!
teclado por Anónimo, em 03 outubro, 2006
Dido,
Nada disso! Quase percebi... ou, não percebi... o teu quadro surrealista mitigado de palavras ou explosão de nada...
Tudo mereces em ti e por Ti! Na impossibilidade de te ofertar o infinito, nesta noite, em Ti te oferto o finito rasgado de luz!
Eneias
teclado por Anónimo, em 03 outubro, 2006
Faz-me lembrar, do Pedro Strech(sim, o próprio!)um poema que é bem diferente e singularmente igual:
" o mal está nos que esquecemos
impunemente a cada esquina das ruas
nas casas escuras em procissão a acidez
não há maior tormento que nada ser
tão somente branco pela ausência existir"
Tem tudo a ver,a escrita é um espelho, um jogo de espelhos e re- produções, de assincronias e excessos, às vezes. abraço!!!
... e o livro chama-se "SETE, poesia abraçada"...
teclado por Anónimo, em 04 outubro, 2006
apontar ao trágico é o oposto de investir nas tais linhas de transparência, na feitura do "corpo cristalino" com sangue, talvez, dentro.
ser feliz, criar veias, pode ser um imenso incómodo e até assustador quando a pobreza das nossas aprendizagens só nos tornou familiar a tragédia: a cada um os seus traços...
"poesia abraçada" é lindo. fala de "existir pela ausência" que por vezes é outro modo de dizer "não ter a coragem de existir pela presença"! abraço
teclado por ~pi, em 05 outubro, 2006
Este comentário é um não comentário. Apeteceu-me vir aqui, ler, sentir mas não me apetece comentar. Quero apenas existir aqui pela presença contemplativa que marca a ausência produtiva de palavras. Às vezes sabe bem só existir sem coragem de ser! Assim deixo a presença da minha ausência de espírito...
teclado por patricia, em 05 outubro, 2006
ainda bem, Patrícia,esse flutuar na ausência (re)produtiva das palavras!!!
que bom ficar embalada na sua, tua, nossa presença-ausente! BEIJO
teclado por ~pi, em 05 outubro, 2006
Sempre sitiados,cercados,habitados, voices in our heads...
teclado por Anónimo, em 06 outubro, 2006
Tocar e cheirar a roupa húmida. Descobri que pode ser uma espécie de útero, e, de facto, um lugar de sonhos remexidos...
teclado por Anónimo, em 07 outubro, 2006
ver, ouvir, sentir, cheirar e até tactear na textura do cheiro.
Fabuloso, a transportar-nos para uma suspensão, apesar de tudo, feita de real.
teclado por Elipse, em 07 outubro, 2006
em vez de re produção, amor?
teclado por Anónimo, em 09 outubro, 2006
o final é isso mesmo: aprender a amar,(deixar-se também amar?) açúcar e limão, claras..., é isso!
teclado por ~pi, em 11 outubro, 2006
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