Miolando

03 outubro, 2006

re produção

deixei de espetar agulhas nos olhos,
agora
de atravessar a língua com fios invisíveis
cuidadosamente traçados da periferia do corpo
deixei-me de actos de crueza
encontrar outras formas de respirar longe de pessoas mirradas de ocasos
esmigalhadas no longo trânsito da vida ridículo apagadamente real
simetricamente indistinto
chocalhos ao pescoço garantiam-me a sua existência
numa gestação ameaçadora de grude larvar

olhar com pasmo aquele não perceber nada como algo
muito próximo por exemplo uma perna, um pé
também ser assim estava por inteiro, ampla e simpaticamente ao meu alcance
não sendo nada daquilo que alguma vez era
reaprendia a respirar francamente bem
remexidos por dentro os sonhos talhados na textura e no cheiro
a roupa húmida
acordavam da água lunar azul violeta turquesa
da água arrefecida profunda verde lunar

âncoras de um longuíssimo esquecimento
coisas simples claras de açúcar e limão

Só para dizer...

  • Nunca esgotar cores e frutos, há um dia em que se cria sangue e veias lá dentro e se faz, talvez, um corpo simples, cristalino, talvez da mesma matéria da lua e das linhas imaginárias da transparência...!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 03 outubro, 2006  

  • Dido,
    Nada disso! Quase percebi... ou, não percebi... o teu quadro surrealista mitigado de palavras ou explosão de nada...
    Tudo mereces em ti e por Ti! Na impossibilidade de te ofertar o infinito, nesta noite, em Ti te oferto o finito rasgado de luz!
    Eneias

    teclado por Anonymous Anónimo, em 03 outubro, 2006  

  • Faz-me lembrar, do Pedro Strech(sim, o próprio!)um poema que é bem diferente e singularmente igual:

    " o mal está nos que esquecemos
    impunemente a cada esquina das ruas
    nas casas escuras em procissão a acidez
    não há maior tormento que nada ser
    tão somente branco pela ausência existir"

    Tem tudo a ver,a escrita é um espelho, um jogo de espelhos e re- produções, de assincronias e excessos, às vezes. abraço!!!
    ... e o livro chama-se "SETE, poesia abraçada"...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 04 outubro, 2006  

  • apontar ao trágico é o oposto de investir nas tais linhas de transparência, na feitura do "corpo cristalino" com sangue, talvez, dentro.
    ser feliz, criar veias, pode ser um imenso incómodo e até assustador quando a pobreza das nossas aprendizagens só nos tornou familiar a tragédia: a cada um os seus traços...

    "poesia abraçada" é lindo. fala de "existir pela ausência" que por vezes é outro modo de dizer "não ter a coragem de existir pela presença"! abraço

    teclado por Blogger ~pi, em 05 outubro, 2006  

  • Este comentário é um não comentário. Apeteceu-me vir aqui, ler, sentir mas não me apetece comentar. Quero apenas existir aqui pela presença contemplativa que marca a ausência produtiva de palavras. Às vezes sabe bem só existir sem coragem de ser! Assim deixo a presença da minha ausência de espírito...

    teclado por Blogger patricia, em 05 outubro, 2006  

  • ainda bem, Patrícia,esse flutuar na ausência (re)produtiva das palavras!!!
    que bom ficar embalada na sua, tua, nossa presença-ausente! BEIJO

    teclado por Blogger ~pi, em 05 outubro, 2006  

  • Sempre sitiados,cercados,habitados, voices in our heads...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 06 outubro, 2006  

  • Tocar e cheirar a roupa húmida. Descobri que pode ser uma espécie de útero, e, de facto, um lugar de sonhos remexidos...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 07 outubro, 2006  

  • ver, ouvir, sentir, cheirar e até tactear na textura do cheiro.
    Fabuloso, a transportar-nos para uma suspensão, apesar de tudo, feita de real.

    teclado por Blogger Elipse, em 07 outubro, 2006  

  • em vez de re produção, amor?

    teclado por Anonymous Anónimo, em 09 outubro, 2006  

  • o final é isso mesmo: aprender a amar,(deixar-se também amar?) açúcar e limão, claras..., é isso!

    teclado por Blogger ~pi, em 11 outubro, 2006  

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