Miolando

29 novembro, 2006

* * * * * * *

As estrelas têm cabelos
presos por uma fita
ao umbigo da mãe
noite.

Ela as alimenta
no simples gesto de entrançar
faúlhas que se soltam
em espirros de bebé.
Fogo fugido, filho perdido…
Ela sabe. Mas quando crescem
as estrelas cortam o cabelo
curto curto.
E a tesoura cadente
crava os bicos no coração
da mãe preta.

Os buracos sangram dor.
Ela constela-se
do mesmo amor.

Só para dizer...

  • e assim veio ao mundo, uma criança =)

    teclado por Blogger joel faria, em 29 novembro, 2006  

  • É este o ciclo da vida. É esta a dor da mãe e a dor dos filhos... tudo neste mundo é umbilical.

    Poema lindíssimo com o que eu mais adoro: noite e estrelas. Só faltava o mar.

    E vai mais um gomo para a tangerina ;)

    Beijos grandes com canela**

    teclado por Blogger patricia, em 29 novembro, 2006  

  • Tenho de brindar este poema com um outro de amolecer o coração e subir a linha de água dos olhos:

    No mais fundo de ti,
    eu sei que traí, mãe.

    Tudo porque já não sou
    o menino adormecido
    no fundo dos teus olhos.

    Tudo porque tu ignoras
    que há leitos onde o frio não se demora
    e noites rumorosas de águas matinais.

    Por isso, às vezes, as palavras que te digo
    são duras, mãe,
    e o nosso amor é infeliz.

    Tudo porque perdi as rosas brancas
    que apertava junto ao coração
    no retrato da moldura.

    Se soubesses como ainda amo as rosas,
    talvez não enchesses as horas de pesadelos.

    Mas tu esqueceste muita coisa;
    esqueceste que as minhas pernas cresceram,
    que todo o meu corpo cresceu,
    e até o meu coração
    ficou enorme, mãe!

    Olha--queres ouvir-me?--
    às vezes ainda sou o menino
    que adormeceu nos teus olhos;

    ainda aperto contra o coração
    rosas tão brancas
    como as que tens na moldura;

    ainda oiço a tua voz:
    Era uma vez uma princesa
    no meio de um laranjal...

    Mas--tu sabes--a noite é enorme,
    e todo o meu corpo cresceu.
    Eu saí da moldura,
    dei às aves os meus olhos a beber.

    Não me esqueci de nada, mãe.
    Guardo a tua voz dentro de mim.
    E deixo-te as rosas.

    Boa noite. Eu vou com as aves.

    Poema à mãe, Eugénio de Andrade

    Beijo grande

    teclado por Blogger patricia, em 29 novembro, 2006  

  • imagens fabulosas. bj bj

    teclado por Anonymous Anónimo, em 30 novembro, 2006  

  • parto prematuro? talvez todos os partos o sejam um pouco...

    (partos felizes com lágrimas!?)

    lindo, Inês!

    bEiJo, saUdAdeS

    teclado por Blogger ~pi, em 03 dezembro, 2006  

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