Miolando

13 novembro, 2006

DESPERTADOR.mistério.

1. deus: vou explicar: é que se entra no café como quando procuramos a fonte, a sede, é inevitável: viemos ao encontro do que parecia salvar, tira-se o caderno da pasta e anotamos como tú e a bíblia: separem-se as águas (um café e um bolo, por favor!)!, separem-se as águas que se percepcione um horizonte, um amigo, uma amante, entendes?, a esperança mora nessa impossibilidade de esburacar oceanos de desenterro de amantes e amigos que nos asfixiem este grito calado como um cancro na sombra, deus: o meu nome é judas, o dos beijos, das boas carícias, dos falsos milagres.
2. e há mais, deus: é que há pouco o tempo era o mesmo e agora quase não passou, a cartogafria que me desorienta e da qual dependo para adivinhar tem desenhos invisíveis, vou por onde ainda não encontrei e todos os dias anoto em esquecimento um caminho mais a não cruzar, por ali por aqui, repetindo-o com o cuidado dos ladrões que roubam à verdade das coisas a sua mentira; e a divulgam em segredo: e a divulgam secretamente sem pudor sem respeito em poemas como um mau poeta desfaz, assumo, deus, mas que queres que faça. a natureza policia-me para castigo de tão grande crime, tú sabes, o sol procura incendiar-me, tú sabes, que és deus, e é também por isso que me escondo na sombra entrando-lhe assustado e urgente como vês, por isso me escondo na sombra e aguardo quieto: quieto: a pensar: a pensar: que a fuga talvez seja o suicídio silencioso, quieto, de café em café a reiniciar o mesmo mau poema inacabado: deus: o meu nome é judas, o dos beijos doces, das boas carícias, quieto dos falsos milagres.
3. de modo que é um óptimo dia para morrer, deus, alguém o escreveu (não foste tú?), lembro-me de uma canção, todos a sabemos, está um óptimo dia para morrer. morrer aos poucos tem um sabor especial, assim como comer este pastel de nata devagar - apetece sempre mais. o meu nome é judas, deus: o dos beijos lambuzados de nata, o das boas carícias e dos falsos milagres.
4. como terminar esta conversa de agora, deus? que dizer-te menos se nenhum texto termina no fim mas no seu princípio, que se não advém depois mas antes? um poema descasca-se por dentro de nós, desnuda-nos: mas só há conteúdo se previamente houver um buraco onde ir rasgar, uma falta: onde um aparente lapso de lógica ter sumo no seco, água na pedra: um poema é um contra-senso como os teus milagres, semelhante a um poço - um poço é grande irracionalidade: porque só pergunta quem adivinha, procura quem suspeita, com a carga desejável de eternidade. deus, digo-te (e acredita): sou mesmo judas: sou mesmo o judas dos beijos, o das boas carícias e dos falsos milagres. percebeste agora?
(casadaconchada.coimbra. 13denovembrode2006)

Só para dizer...

  • deus, judas, um e o mesmo outro. somos todos, somos os dois, os das falsas carícias, dos amores, dos enganos. entendemo-nos!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 14 novembro, 2006  

  • judas, deus, o das carícias, do ósculo, do rabi. As tochas assim o iluminaram. assim as pedras saltaram, onde a cruz terminou e o chão começava...

    de modo que judas, quao falsas sao as tuas caricias? ouvi dizer


    ... sou gajo, e nao sei falar.

    teclado por Blogger joel faria, em 17 novembro, 2006  

  • como comer o teu papel de nada devagar.

    judas sombras e tudo apenas pontinhos pequeninos num céu sem fim, "eu, tu, e todos os que conhecemos"...iguais.

    beijo

    teclado por Blogger ~pi, em 18 novembro, 2006  

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