Miolando

23 janeiro, 2007

AULA DE GUITARRA. luci.

o corpo estendido no olhar o tecto é descritivo
o corpo estendido a olhar o tecto:
quando se sente fortemente a imaginação:
de que vai ruir esmagando-nos a cabeça:
e não há movimento:
não há reacção de fuga:
não há sequer pergunta que suporte tanto peso do vazio

queria abrir a boca e fazer nascer flores
imagem simples
fazer nascer flores
não o universo ou átomos ou pinturas expressionistas
apenas flores;
porque sinto flores;
rio flores;
canto flores;
mas jorro sede e deserto:
não há sequer pergunta que surja de tanto peso do vazio

escrevo-lhe
de novo me envio para que me venha visitar debaixo desta pedra:
é essa a esperança:
debaixo desta pedra insuportável neste quarto e que me traga flores,
tenho sede e farto-me de olhar para mim no reflexo deste tecto que vai cair vai cair vai cair

este verso será o mais longo.
apetece um cigarro impossível.
nenhuma noite terminará puxando-lhe a palavra última.
apetece fumo.
apetece desaparecer com fumo.
não receio o escuro dos meu olhos.
não tenho medo de os fechar abrindo a noite no teu colo.
posso pousar em ti.
posso deixar em ti tudo mas tudo o que o meu corpo é,
posso despir-me.
este será o mais comprido desígnio.
o mais completo verso.
vem ver:
consigo equilibrar a minha solidão à varanda suspensa deste ruído de fábrica
numa só perna os ossos não mordem ao frio que me abraça e
(ligeiro súbito tímpano ao ouvido - eco de cão de eco)
e o olhar invertido sobe a noite como se tudo subisse a rua que sobe e nada se passa
e nada se passa

fumo
fumo muito
calmamente

vai cair vai cair vai cair

vem ver

Só para dizer...

  • apesar de básica, como te disse antes...
    não sei que te diga agora...

    nada se passa na rua. dizes.
    escreves. eu digo que se
    passa na rua e mais por dentro da rua. levantado o pó da rua o tecido da rua desconjuntado passam-se as flores.

    canteiros de flores-de-muitas-cores a perder-se em ...não não só na largura
    também na profundidade da rua habitam flores a perder de vista******************************

    a perder de voz-ecos-sem-fim-de-flores. a-perder-de-música...

    mas não iludamos a vida com pedras e metais.
    nem mesmo com palavras.

    por isso, paulo. por isso levo-te flores com terra na raiz. ainda hoje. afinal não é tarde. ainda nem noite será...

    garanto-te que o tecto não há-de cair. se no entanto me enganar havemos de segurá-lo. com flores. ou com qualquer uotra coisa por inventar...

    até já*

    teclado por Blogger ~pi, em 23 janeiro, 2007  

  • para além do resto pasmo com a tua clareza e coragem.

    para além do resto ainda, o texto, e isso não é excepção em ti, é de cor selvagem crua e é lindo, é lindo, é lindo!!!

    (por isso, e não só, espero que os nossos amigos venham também hoje até aqui...)

    teclado por Blogger ~pi, em 23 janeiro, 2007  

  • Gostava de fazer nascer flores, de falar e saírem flores da boca para o coração de pessoas... mas as flores só saem dos olhos e dos olhos quase ninguém vê nada!!

    beijos, paulo. Adorei!**

    teclado por Blogger patricia, em 23 janeiro, 2007  

  • como te hei-de falar sobre o que escreves? como te hei-de dizer que amo o que dizes, que sinto o que meio dizes, que também estarei sob as pedras, outras pedras, à espera de outros olhos, de outros colos, a cair, como tu, irmão?! que belo!
    ouviste o som da guitarra, luci?
    beijos, vertiginosos.

    teclado por Blogger Dália Dias, em 24 janeiro, 2007  

  • sim dália ouvi.e adoro as tuas enoções escritas!
    e ouvi patrícia e vi as flores nos teus olhos!...sempre!

    é tão comovente pra mim e tão bom ter o imenso privilégio, o intenso privilégio de estar aqui também. convosco...

    teclado por Blogger ~pi, em 24 janeiro, 2007  

  • somos todos bafejados pela nossa sorte...e sabemos usá-la. por isso dizia, há dias, que não vos quero - não vos posso - perder!

    teclado por Blogger Dália Dias, em 24 janeiro, 2007  

  • Que lindos miolinhos!
    Que bem que sabe ler-vos!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 24 janeiro, 2007  

  • escreve mais, sarilho! gosto da tua presença. diria que quase me basta...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 24 janeiro, 2007  

  • Hola Luci. Me gusta mucho lo que hs escrito.

    Gracias por visitarme.

    teclado por Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte), em 25 janeiro, 2007  

  • Texto da alma que atravessa as fronteiras a direito.
    Com intensidade, como uma viagem alucinante no comboio da noite...
    abraço

    teclado por Anonymous Anónimo, em 25 janeiro, 2007  

  • Bom, muito bom!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 27 janeiro, 2007  

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