Miolando

16 janeiro, 2007

AULA DE GUITARRA.

ao dobrar da perna sentado na cadeira do palco, ao encostar na barriga e no peito, os dedos que se seguirem em bailado sobre as cordas serão distantes de toda a luz ausente que entretanto atravessei para chegar até aqui, quase não parecendo meus, quase não parecendo eu:
subo-te como os cães que mostram os dentes de pânico e de raiva
ao dobrar da perna (o público negro em silêncio aguardando), ao encostar na barriga, os dedos que se seguirem em bailado sobre as cordas (o eco dos sons em vibração no peito) serão longínquos da madrugada que desde sempre me atravessa, quase não parecendo eus, quase não parecendo meus:
trepo-te rasgando cego o amor que me tens, em espécie de vingança sobre o destino que ao meu poema todos os dias se impõe
perdoa
ao dobrar da perna, ao encostar na barriga o corpo da guitarra, os dedos depois em balanço sobre as cordas (eu dentro de ti) tremem o medo de não conseguir fazer-te dançar com esta melodia triste
(casadesãodinis,porto.16dejaneirode2007)

Só para dizer...

  • que belo canto, entre o corpo da guitarra e as outras cordas, os joelhos dobrados. como os outros poetas, seguimos desde há muito o séquito de Dionísio. o canto e a dança percorrem-nos, na pele ou - é o mesmo - no coração.

    teclado por Blogger Dália Dias, em 16 janeiro, 2007  

  • dias de dália dias de dália; não tenho comentado muito; um roubo impossibilitou-me o contacto; para além de que, quando não se sabe, é melhor estar calado; mas tenho andado atento aos teus registos (e aos dos colegas rebichanos); e tenho-me sentido muito bem ao lê-los. bj.

    teclado por Anonymous Anónimo, em 16 janeiro, 2007  

  • hoje flutuei melancólica e má numa superfície estalada. aos gritos. aos saltos. de raiva.

    hoje, apesar de saber que nenhum regresso à dor deve ser evitado, concentrei-me alguns momentos. no riso. no respirar... a-penas.

    agora a profunda delicadeza do teu poema deixou-me parada. mexi mais tarde um pé. de-pois-o-outro- outro-outro-um-pé-no-ar.

    e de novo dançar se manifestou como uma das prioridades da minha vida: a que reconheço talvez mais rapidamente.

    e dancei. dificilmente ouvirás tu a música que tocas, mas foi... assim.

    teclado por Blogger ~pi, em 16 janeiro, 2007  

  • e continuamos. uma conversa infinita, cada vez mais. obrigada luci. obrigada paulo. são os dois de hoje.

    teclado por Blogger Dália Dias, em 17 janeiro, 2007  

  • Que bom! Muito bom!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 17 janeiro, 2007  

  • o dobrar da perna, o dobrar dos pulsos, o dobrar da voz, feito dobras em sulcos... se assim se faz fonética, assim se faz compassos, assim se faz acidentes, amando síncopas dementes...

    teclado por Blogger joel faria, em 19 janeiro, 2007  

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