Miolando

28 janeiro, 2007


EPITÁFIO (morrer é só não ser visto)

Sem mais delongas, cerco-me do intenso verde,
nas misteriosas espessuras.
Chego um pouco tarde, é certo, a um lugar que
não comporta qualquer fidelidade.
Aí, o musgo deixa escorrer pesados líquidos,
sobre o chão de húmus e flores putrefactas.
Nestas paragens ninguém suspeita de quem
já não pode ser surpreendido pela morte.
A vida, lá fora, nos dias paralelos, é mais intensamente exposta.

Por isso – eis o equívoco – todos dizem que é tempo de colheitas.
Ignoram, porque assim deve ser, que
há outra ceifeira
respondendo à canção,
que as mulheres entoam,
vinda do fundo do vale.



04.07.2005, Poemas do Crescente

Só para dizer...

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