Miolando

22 janeiro, 2007

mil agreS


paula rego. serralves. 2006





















permaneço de focinho no ar a farejar o infinito a infinita angústia a infinita fome a infinita ausência.

ó deus que me amas num amor incerto e demasiado cerebral demasiado transversal demasiado apertado. e que donde moras me lanças migalhas de mim e aos bocados me arrasto térrea me arrasto chumbo e falta sempre um pedaço.
( eu ó deus sombra inacabada da tua sombra que me cega farejo o teu infinito nos ventos e nas ervas...)

abres-te dos fogos do céu sem te fazeres anunciar desces do teu esdrúxulo assento dourado e cais-me nos ossos demasiado expostos demasiado frágeis
tu pesado eu muda.

faço-te frente de garras em riste de cabeça em riste de pânico em riste começo a amar-te de pânico em riste e as mãos no ar cardos tesouras não me cerques não me confundas não me lances fogo não me esmagues não me devores.
marro inútil e cega o teu sagrado corpo azul omnipresente corpo. a naufragar na tua pálida leveza espumosa deixo

amassar de mim o teu milagre.

ó deus que estás sempre em mim e eu nunca em ti e eu nunca em ti. que só os teus dedos tenazes na garganta circulam torrentes de leis e orações a perderem-me a faringe a prenderem as cordas vocais e eu invisível unicelular a furar pedras até ser água. e de novo o milagre: eu quase fungo quase alga reaprendo a nadar nos fumos de santiago. nas águas vermelhas do nilo.

Só para dizer...

  • Deus mar, Deus pai, Deus Sol, Deus natureza, o que está tan perto e tan lonxe como o Nilo.
    Divino, Luci.
    Abraços.

    teclado por Anonymous Anónimo, em 22 janeiro, 2007  

  • gosto muito! bj bj

    teclado por Anonymous Anónimo, em 22 janeiro, 2007  

  • texto bruto,férreo,grave. de palavras em riste. divino.

    teclado por Blogger Elipse, em 22 janeiro, 2007  

  • Comovente!
    Furar pedras até sair água, percebo o milagre.
    Aprender a nadar na água ainda vermelha ou, mais difícil, no fumo, sim, outro milagre!

    abraço em crawl...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 22 janeiro, 2007  

  • Olá!
    Divino!
    Parabéns.

    teclado por Blogger david santos, em 22 janeiro, 2007  

  • que milagre o desta escrita. que ferocidade tão carnal! sei, sem saber, do que falas. beijo para ti.

    teclado por Blogger Dália Dias, em 22 janeiro, 2007  

  • DEZ: FALA-SE DE LIMITES?
    DE VULCÕES DE ÂNSIA E DE ÂNSIA DE PAZ AO MESMO TEMPO....
    RECOMENDA-SE LER SEM RESPIRAR!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 22 janeiro, 2007  

  • A minha interpretação de um texto é sempre resultado de uma primeira leitura com memória fotográfica em busca da sonoridade das palavras... no caso (pela intensidade) deste teu texto tenho que o reler... para dissertar...

    beijinhos

    teclado por Blogger mixtu, em 23 janeiro, 2007  

  • como podes ter gostado? isto não é nada para gostar. falas de quê? em vez de gostar talvez...

    não gostar?...

    lonxe como o nilo. muito longe mesmo e ainda por cima...vermelho...

    não livre de milagres elipse. não. e no entanto apontado ao céu...

    crawl...sempre. seguido de ...costas?

    parabéns? obrigada! acedi ao divino. desço já...

    dália minha querida é aí mesmo onde dizes. intuição e pontaria infalíveis. sabemos muito bem do que falamos sem falar...e é tudo!

    vulcões...gosto. dão para apagar e acender e de novo apagar. sem respirar...

    e tu, que a fotografia dos sons na memória...se te, (te se?)revele música. ajoelha-te. (talvez perto da sarça ardente...)

    teclado por Blogger ~pi, em 23 janeiro, 2007  

  • felizmente não se manda no que os outros gostam ou não gostam. felizmente não se manda no comentário a fazer. enable no comments e já está. ou: enuncia uma lista dos comentário-tipo que pretendas. não sei se não considero a tua resposta pouco elegante. mas o teu texto é muito bom e gosto muito dele, nada a fazer.

    teclado por Anonymous Anónimo, em 23 janeiro, 2007  

  • não pretendi ofender-te. juro!

    sou a-brutalhada. terráquea (escreve-se assim?)pouco polida. mais vezes do que gostaria...

    talvez ainda estivesse a pensar que falava com deus... como viste, andamos um bocado... amigos, mas eu a ver se o convenço a amassar outra luci.

    (porque acho que ele se enganou nas medidas da massa...)

    mas tens razão. desculpa-me por favor!

    teclado por Blogger ~pi, em 23 janeiro, 2007  

  • Carnal visceral intenso... garra garra muita garra e é isso que vejo quando olho para ti...

    inexplicável porque te vejo poucas vezes :) mas a memória sensitiva assim mo dita!

    beijos**

    teclado por Blogger patricia, em 23 janeiro, 2007  

  • SI DIOS FUERA UNA MUJER

    ¿Y si Dios fuera una mujer?

    vaya vaya si dios fuera mujer
    es posible que agnósticos y ateos
    no dijéramos no con la cabeza
    y dijéramos sí con las entrañas

    tal vez nos acercáramos a su divina
    desnudez
    para besar sus pies no de bronce
    su pubis no de piedra
    sus pechos no de mármol
    sus labios no de yeso

    si dios fuera mujer la abrazaríamos
    para arrancarla de su lontananza
    y no habría que jurar
    hasta que la muerte nos separe
    ya que sería inmortal por antonomasia
    y en vez de transmitirnos sida o pánico
    nos contagiaría su inmortalidad

    si dios fuera mujer no se instalaría
    lejana en el reino de los cielos
    sino que nos aguardaría en el zaguán del
    infierno
    con sus brazos no cerrados
    su rosa no de plástico
    y su amor no de ángeles

    ay dios mío dios mío
    si hasta siempre y desde siempre
    fueras una mujer
    qué lindo escándalo sería
    qué venturosa espléndida imposible
    prodigiosa blasfemia...

    Benedetti, el maestro, más una foto,más una sonoridad... luces del otro lado de la frontera...

    besos con mucho cariño

    teclado por Blogger mixtu, em 23 janeiro, 2007  

  • não é preciso vermo-nos muitas vezes patrícia! numa só vez o essencial fica registado...
    é como as flores nos olhos...há quem não veja!

    miXtu agora sou eu que fico com o poema nas mãos ...belo e forte como é não sei quando acabo de o ler. acabo recomeço acabo?...

    teclado por Blogger ~pi, em 24 janeiro, 2007  

  • não recomeço. ainda não. quando um poema me supera (tanta coisa tanta!...) espero.

    fico muito tempo de cabeça na asa a en-tra-nhar. a flu-tu-ar.
    a afiar o peito...

    teclado por Blogger ~pi, em 24 janeiro, 2007  

  • Também eu me rendo à beleza forte e anacrónica do teu poema.

    E inclino a cabeça para ouvir melhor...

    BEIJOOOO

    teclado por Anonymous Anónimo, em 25 janeiro, 2007  

  • Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    teclado por Blogger ~pi, em 25 janeiro, 2007  

  • Sobre o poema do commentário.
    De Deus que se faz mulher, do Deus que responde assim em carne viva às perguntas lançadas... do alto da pedra.
    Esse Deus capaz de responder ao vivo às perguntas e aos medos...só Deus pode ser assim tão especial, tão fora do espírito afinal...

    teclado por Anonymous Anónimo, em 25 janeiro, 2007  

  • Se Deus é...é certamente mulher!
    E também por isso...mais um beijo

    teclado por Anonymous Anónimo, em 25 janeiro, 2007  

  • há muito que sabia! e que deus está vivo e anda por ai a voar á noite também. beijo

    teclado por Blogger ~pi, em 26 janeiro, 2007  

  • Então não admira que tenhas ficado assim...
    hihihi!!!

    Gostei muito da escrita!

    teclado por Anonymous Anónimo, em 27 janeiro, 2007  

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