mil agreS
paula rego. serralves. 2006
permaneço de focinho no ar a farejar o infinito a infinita angústia a infinita fome a infinita ausência.
ó deus que me amas num amor incerto e demasiado cerebral demasiado transversal demasiado apertado. e que donde moras me lanças migalhas de mim e aos bocados me arrasto térrea me arrasto chumbo e falta sempre um pedaço.
( eu ó deus sombra inacabada da tua sombra que me cega farejo o teu infinito nos ventos e nas ervas...)
abres-te dos fogos do céu sem te fazeres anunciar desces do teu esdrúxulo assento dourado e cais-me nos ossos demasiado expostos demasiado frágeis
tu pesado eu muda.
faço-te frente de garras em riste de cabeça em riste de pânico em riste começo a amar-te de pânico em riste e as mãos no ar cardos tesouras não me cerques não me confundas não me lances fogo não me esmagues não me devores.
marro inútil e cega o teu sagrado corpo azul omnipresente corpo. a naufragar na tua pálida leveza espumosa deixo
amassar de mim o teu milagre.
ó deus que estás sempre em mim e eu nunca em ti e eu nunca em ti. que só os teus dedos tenazes na garganta circulam torrentes de leis e orações a perderem-me a faringe a prenderem as cordas vocais e eu invisível unicelular a furar pedras até ser água. e de novo o milagre: eu quase fungo quase alga reaprendo a nadar nos fumos de santiago. nas águas vermelhas do nilo.
Só para dizer...
Deus mar, Deus pai, Deus Sol, Deus natureza, o que está tan perto e tan lonxe como o Nilo.
Divino, Luci.
Abraços.
teclado por Anónimo, em 22 janeiro, 2007
gosto muito! bj bj
teclado por Anónimo, em 22 janeiro, 2007
texto bruto,férreo,grave. de palavras em riste. divino.
teclado por Elipse, em 22 janeiro, 2007
Comovente!
Furar pedras até sair água, percebo o milagre.
Aprender a nadar na água ainda vermelha ou, mais difícil, no fumo, sim, outro milagre!
abraço em crawl...
teclado por Anónimo, em 22 janeiro, 2007
Olá!
Divino!
Parabéns.
teclado por david santos, em 22 janeiro, 2007
que milagre o desta escrita. que ferocidade tão carnal! sei, sem saber, do que falas. beijo para ti.
teclado por Dália Dias, em 22 janeiro, 2007
DEZ: FALA-SE DE LIMITES?
DE VULCÕES DE ÂNSIA E DE ÂNSIA DE PAZ AO MESMO TEMPO....
RECOMENDA-SE LER SEM RESPIRAR!
teclado por Anónimo, em 22 janeiro, 2007
A minha interpretação de um texto é sempre resultado de uma primeira leitura com memória fotográfica em busca da sonoridade das palavras... no caso (pela intensidade) deste teu texto tenho que o reler... para dissertar...
beijinhos
teclado por mixtu, em 23 janeiro, 2007
como podes ter gostado? isto não é nada para gostar. falas de quê? em vez de gostar talvez...
não gostar?...
lonxe como o nilo. muito longe mesmo e ainda por cima...vermelho...
não livre de milagres elipse. não. e no entanto apontado ao céu...
crawl...sempre. seguido de ...costas?
parabéns? obrigada! acedi ao divino. desço já...
dália minha querida é aí mesmo onde dizes. intuição e pontaria infalíveis. sabemos muito bem do que falamos sem falar...e é tudo!
vulcões...gosto. dão para apagar e acender e de novo apagar. sem respirar...
e tu, que a fotografia dos sons na memória...se te, (te se?)revele música. ajoelha-te. (talvez perto da sarça ardente...)
teclado por ~pi, em 23 janeiro, 2007
felizmente não se manda no que os outros gostam ou não gostam. felizmente não se manda no comentário a fazer. enable no comments e já está. ou: enuncia uma lista dos comentário-tipo que pretendas. não sei se não considero a tua resposta pouco elegante. mas o teu texto é muito bom e gosto muito dele, nada a fazer.
teclado por Anónimo, em 23 janeiro, 2007
não pretendi ofender-te. juro!
sou a-brutalhada. terráquea (escreve-se assim?)pouco polida. mais vezes do que gostaria...
talvez ainda estivesse a pensar que falava com deus... como viste, andamos um bocado... amigos, mas eu a ver se o convenço a amassar outra luci.
(porque acho que ele se enganou nas medidas da massa...)
mas tens razão. desculpa-me por favor!
teclado por ~pi, em 23 janeiro, 2007
Carnal visceral intenso... garra garra muita garra e é isso que vejo quando olho para ti...
inexplicável porque te vejo poucas vezes :) mas a memória sensitiva assim mo dita!
beijos**
teclado por patricia, em 23 janeiro, 2007
SI DIOS FUERA UNA MUJER
¿Y si Dios fuera una mujer?
vaya vaya si dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas
tal vez nos acercáramos a su divina
desnudez
para besar sus pies no de bronce
su pubis no de piedra
sus pechos no de mármol
sus labios no de yeso
si dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos sida o pánico
nos contagiaría su inmortalidad
si dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos
sino que nos aguardaría en el zaguán del
infierno
con sus brazos no cerrados
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles
ay dios mío dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería
qué venturosa espléndida imposible
prodigiosa blasfemia...
Benedetti, el maestro, más una foto,más una sonoridad... luces del otro lado de la frontera...
besos con mucho cariño
teclado por mixtu, em 23 janeiro, 2007
não é preciso vermo-nos muitas vezes patrícia! numa só vez o essencial fica registado...
é como as flores nos olhos...há quem não veja!
miXtu agora sou eu que fico com o poema nas mãos ...belo e forte como é não sei quando acabo de o ler. acabo recomeço acabo?...
teclado por ~pi, em 24 janeiro, 2007
não recomeço. ainda não. quando um poema me supera (tanta coisa tanta!...) espero.
fico muito tempo de cabeça na asa a en-tra-nhar. a flu-tu-ar.
a afiar o peito...
teclado por ~pi, em 24 janeiro, 2007
Também eu me rendo à beleza forte e anacrónica do teu poema.
E inclino a cabeça para ouvir melhor...
BEIJOOOO
teclado por Anónimo, em 25 janeiro, 2007
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
teclado por ~pi, em 25 janeiro, 2007
Sobre o poema do commentário.
De Deus que se faz mulher, do Deus que responde assim em carne viva às perguntas lançadas... do alto da pedra.
Esse Deus capaz de responder ao vivo às perguntas e aos medos...só Deus pode ser assim tão especial, tão fora do espírito afinal...
teclado por Anónimo, em 25 janeiro, 2007
Se Deus é...é certamente mulher!
E também por isso...mais um beijo
teclado por Anónimo, em 25 janeiro, 2007
há muito que sabia! e que deus está vivo e anda por ai a voar á noite também. beijo
teclado por ~pi, em 26 janeiro, 2007
Então não admira que tenhas ficado assim...
hihihi!!!
Gostei muito da escrita!
teclado por Anónimo, em 27 janeiro, 2007
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