Miolando

05 julho, 2007





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Não há gota de água nesta tela.

Despiram-me a pele das mãos
para sentir a chuva que não cai
para sentir a tela que não sorve tinta.
Nem um trago.
Trago cada passo e cada laço em gavetas
de uma memória amarela e esfumada:
joelho e coxa e anca e peito
nesse perro jeito de me aguardar
nas coisas do passado.

Não há gota de água nesta cela.

Secura, secura, secura.
Segura-me, que vou cair
no abismo em que não há estacas
para me suster
nesta forma de ser e não ser
Mulher: primitiva noite
estrela esvaída em sangue
caída do céu - ou de algum pulso meu.

Sede. Sede. Sede. Não há gota de água neste medo.

Cedo ou tarde,
caminho para fora deste quadro.
Deslizo para o invisível.
Deslocam-se por mim os meus quadris
arrastam todo o peso da memória
guiam-me na noite sem Norte.
Giro.
Umbigo forte.
Buraco côncavo de suporte.
Liga-me ao centro fecundo.
Trago no ventre uma esperança
mas não há tinta para a fazer nascer.
Não há tinta porque não há água.
E é preciso água...
para uma criança

romper.

Só para dizer...

  • Imagem: Girafa em Chamas, Salvador Dali, 1936-37.

    teclado por Blogger Inês Mendes, em 05 julho, 2007  

  • andamos cegos
    surdos
    mudos
    às apalpadelas

    não vemos que temos
    escadas nas pernas
    para chegar
    à gaveta do coração
    e beber aí a gota
    que falta!

    ao fundo a girafa
    faz a dança da chuva
    vai ao extremo
    para conseguir que caia
    uma gota
    duas gotas
    três gotas
    todas as gotas...

    e andamos cegos
    surdos
    mudos
    secos para o mundo!

    beijos***

    teclado por Blogger patricia, em 07 julho, 2007  

  • Não precisei de ver o teu nome para saber que era teu. Quando se lê o que já nos toca nem precisamos de b.i.s nem de nomes, só da poesia, dos versos, da água que gosto de beber nos teus poemas!

    E esta água demora tanto a chegar... ;)

    beijos em desconta gotas***

    teclado por Blogger patricia, em 07 julho, 2007  

  • é preciso largar o medo


    emprestar o corpo


    à


    ambiguidade


    natural


    das águas




    beijO.inêS

    teclado por Blogger un dress, em 09 julho, 2007  

  • Fogo engolido, a girafa estende o seu longo pescoço e morde as folhas do poema. Sabe que ele é água!

    Patrícia:
    a gaveta do coração...como conheces já a minha, na sua ternura aflita!

    Luci:
    Entre as mulheres que moram dentro de nós, conta-se uma girafa a arder. Mas há também uma que voa, pescoço acariciado pelas nuvens.

    teclado por Blogger Inês Mendes, em 10 julho, 2007  

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