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Não há gota de água nesta tela.
Despiram-me a pele das mãos
para sentir a chuva que não cai
para sentir a tela que não sorve tinta.
Nem um trago.
Trago cada passo e cada laço em gavetas
de uma memória amarela e esfumada:
joelho e coxa e anca e peito
nesse perro jeito de me aguardar
nas coisas do passado.
Não há gota de água nesta cela.
Secura, secura, secura.
Segura-me, que vou cair
no abismo em que não há estacas
para me suster
nesta forma de ser e não ser
Mulher: primitiva noite
estrela esvaída em sangue
caída do céu - ou de algum pulso meu.
Sede. Sede. Sede. Não há gota de água neste medo.
Cedo ou tarde,
caminho para fora deste quadro.
Deslizo para o invisível.
Deslocam-se por mim os meus quadris
arrastam todo o peso da memória
guiam-me na noite sem Norte.
Giro.
Umbigo forte.
Buraco côncavo de suporte.
Liga-me ao centro fecundo.
Trago no ventre uma esperança
mas não há tinta para a fazer nascer.
Não há tinta porque não há água.
E é preciso água...
para uma criança
romper.
Só para dizer...
Imagem: Girafa em Chamas, Salvador Dali, 1936-37.
teclado por Inês Mendes, em 05 julho, 2007
andamos cegos
surdos
mudos
às apalpadelas
não vemos que temos
escadas nas pernas
para chegar
à gaveta do coração
e beber aí a gota
que falta!
ao fundo a girafa
faz a dança da chuva
vai ao extremo
para conseguir que caia
uma gota
duas gotas
três gotas
todas as gotas...
e andamos cegos
surdos
mudos
secos para o mundo!
beijos***
teclado por patricia, em 07 julho, 2007
Não precisei de ver o teu nome para saber que era teu. Quando se lê o que já nos toca nem precisamos de b.i.s nem de nomes, só da poesia, dos versos, da água que gosto de beber nos teus poemas!
E esta água demora tanto a chegar... ;)
beijos em desconta gotas***
teclado por patricia, em 07 julho, 2007
é preciso largar o medo
emprestar o corpo
à
ambiguidade
natural
das águas
beijO.inêS
teclado por un dress, em 09 julho, 2007
Fogo engolido, a girafa estende o seu longo pescoço e morde as folhas do poema. Sabe que ele é água!
Patrícia:
a gaveta do coração...como conheces já a minha, na sua ternura aflita!
Luci:
Entre as mulheres que moram dentro de nós, conta-se uma girafa a arder. Mas há também uma que voa, pescoço acariciado pelas nuvens.
teclado por Inês Mendes, em 10 julho, 2007
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