Miolando

26 março, 2007

sul

Em tempos, conta-se, ouvia-se um tropel nesta longínqua praia, nas noites de temporal. Às crianças pedia-se que se escondessem, que fechassem portas e janelas e soprassem as candeias. O ruído, vindo do mar, cada vez mais próximo, era o sinal do desencantamento eminente. Em contacto com a humidade e o medo, havia que passar aquela fresta do tempo, de onde escorriam sonhos com desejados mouros, cavaleiros monges e marinheiros perdidos. As velhas rezavam palavras que ninguém guardou, afastando com elas os misteriosos visitantes.
Por isso, nestas paragens, pensa-se, ainda hoje os espaços são abertos, suspensos da luz e do pio inquieto das aves.

Aqui vou permanecer, por vontade, no solo, entre duas pedras verticais. Assim se explica – entendes? – que o meu corpo se faça mais pequeno, para melhor se afeiçoar à estreita morada que o oculta, na incerteza da próxima tempestade.

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Só para dizer...

  • in Poemas do Crescente.
    por falar em aves, de passarem aves...
    abraços (com jantar a 14, pode ser?)

    teclado por Anonymous Anónimo, em 26 março, 2007  

  • aqui permaneço dália

    um pouco inquieta...

    e no entanto aliviada


    ( no caminho entre

    o medo

    e a

    luZ

    dos

    encantamentos...)



    muito belo o teu texto, entre duas pedras verticais na pequenez, nOs reconheÇo. suSpenSas.

    beijO

    (14 não sei, tenho que ver com o teatro, logo te direi)

    luci

    teclado por Blogger un dress, em 27 março, 2007  

  • Muito bonito e comovente!
    Abraço pra ti,

    margarida

    teclado por Anonymous Anónimo, em 28 março, 2007  

  • As casas eram baixas, porque as pessoas não eram maiores. Quando se ouvia o tropel, fechavam-se as portas, recusavam-se abrigos e rezava-se para que os santos os protegessem.
    Como às vezes os santos não chegavam, saía-se de casa, pela porta baixa com crista alta e ancinho, foice, enxada na mão para combater. Em nome de alguém, em nome de algo, lutava-se até à morte.
    Daí serem invictos, daí o orgulho de serem invictos, daí a pretensão de acaharem que ainda são invictos... mas daí a razão de acreditarem que filho de invicto invicto é.

    ***

    teclado por Blogger patricia, em 28 março, 2007  

  • aqui

    por vontade minha.

    aqui a-corro

    aoS

    apeloS


    do

    SolO

    teclado por Blogger luci, em 29 março, 2007  

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