31 outubro, 2007
30 outubro, 2007
diária (4)
"quando o ritmo provoca o balanço do corpo, quando o meu sopro reinventa o seu reequilíbrio - esse é um dos momentos mágicos na vida de um músico, a sua música ser tão forte que provoca a vontade, o desejo, a dança, o canto. 29 outubro, 2007
26 outubro, 2007
diária (3)
"nestes tempos últimos tenho mais tempo. não sei se me não faz mal, momentos mais para tanto poder de acontecer. escrevi do receio que sinto ao ler um poema, anotei sobre sentimento parecido na audição de melodia que me deixe abandonado a quê, atarantado perante que sentidos novos, menciono de novo o medo dos teus olhos, o teu olhar-me, desculpa, não consigo evitar - sei que não acreditas. uma mentira pode ser verdadeira. afirmar que algo aconteceu e tudo girar depois em torno desse acontecer que não foi. não questiono o motivo da invenção nem a moralidade da expressão falsa nem as possíveis consequências. descobriram-se compositores que jamais haviam composto determinadas melodias assumidas como suas. descobriram-se compositores que haviam composto determinada melodia jamais assumida como deles. sempre tive medo de ti. todo o amor que fiz foi por pânico, foi assustado que te tomei como louco, amedrontado que te verguei a que prazer. descobriram-se compositores que jamais haviam composto determinada melodia, descobriram-se compositores que haviam composto determinada melodia que não era deles. estava próximo, muito próximo de morrer tudo todo totalmente em ti, de ser a verdade mais pura e mais frágil, menos muito menos, mais muito mais." eugénio alves da cruz. beira. moçambique. 24 de outubro de 196525 outubro, 2007
diária (2)
"as missas; compor uma missa nos dias de hoje é tão importante como será a criação da ópera e a elaboração da sinfonia anos mais tarde. sabias que uma missa se divide em várias partes? kyrie, glória, credo... e que poderão ser mais de uma dezena em dias solenes (missa solemnis) - a missa "ordinária" terá cinco ou seis, no máximo. a polifonia renascentista: o feliz e progressivo abandono do cantochão, do cantus firmus medievo, várias vozes interdependentes, contrapontísticas, a invenção de linhas para além do tenor, a técnica da imitação, o tempo dos cânones, o pensamento único, horizontal, a dar origem a um elaborado sentido vertical do acorde, da harmonia, da ascensão em voo a deus... e mais, que dizer-te, muito mais, deste ano de 1556 em que vivo sobreviverão as missas, as missas e os motetes, serão lembrados unicamente os nomes mas duvido que os corpos, nem as lembranças que lhes guardamos se as não anotarmos, as letras mas não as coisas que tocamos e que as letras contam, é assim, tantas vezes dou por mim preso neste passado que a música não salva, não salva mesmo, venham poetas e músicos afirmar diferente mas não salva, sei-o, eu que com o meu canto permanentemente asfixiado nas melodias de josquin e nas vozes de lassus (entregaram-me há pouco um motete de tallis, cantaremos amanhã na catedral) queria apenas ter sido teu homem e ter sido pai de filhos nossos" eugénio alves da cruz. porto. 24 de outubro de 1556 24 outubro, 2007
23 outubro, 2007
diária (1)
"situações estranhas, há meses sem a ver ( andando ela em ti, voando de vez em quando, em ti de lá para cá), há meses sem a rever ( ainda que a pressintas dentro de ti, voando em ti de onde para onde como lembranças de vez em quando fortes), há meses a esquecê-la ( de quando em quando um leve odor uma leve imagem um leve toque da sua asa na tua pele interna na tua face) e quando a reencontras falas de situações estranhas, falas de coisas estranhas, do teu evitar poemas e melodias que te façam cortar e explodir (por isso não lês, por tal guardaste urgentemente o saxofone), e (apesar da violência com que a tomaste) quando a revês contas que ainda tens medo do seu olhar " eugénio alves da cruz. porto. 21 de outubro de 2007 20 outubro, 2007
leve.antar
16 outubro, 2007
REVE
imóvel
uma impressão algo vegetal
de carvão frágil
Então, um resgate de azul
eclode sobre o fundo
da caverna
onde
existimos
15.10
Etiquetas: abraço para todos, em forma de post...
13 outubro, 2007
odisseia no espaço

encontrámos a lua
crescente
rugosa cratera
Vamos caminhar
Revistar
calçámos as botas de explorador
e com os pés am ângulo raso
caminhámos
Estou aqui
Eu também
Então anda
e andámos
passo a passo
pés de crude
carimbo na terra
branca seca
a certa altura
Onde estááááááaás?
(perdi-me)
Estou aquiiiiiiiiiiiiiiiii
(prendeu-se)
à espera
NÃO, espera
tarde de mais...
veio com lanço
perna de ângulo obtuso
passou a recto
e na explosão
a lua saiu minguante
saltaram-me as botas
caí numa cratera
aterrei numa rede
lua em cheio
e depois um urro
prolongado
estendido no ar
Há vida
concluí
Qual é o caminho de volta?
10 outubro, 2007
sem imagem a olho nua
Se ao olhar o horizonte te veria
não saberia dizer
pelo que o horizonte
é mais do que uma linha que se traça
Se ao olhar no fundo dos teus olhos te veria
não saberia dizer
pelo que os olhos guardam
mais do que o que se pode conter
mais do que o que se pode contar
Se ao me perguntares queres ouvir
não saberia dizer
pelo que as palavras se soltam
e fogem e voltam livres
en.demo.aninhadas
Se ao olhar o horizonte
me perguntares o que guardam os meus olhos
não saberia dizer
mas saberia chorar
as palavras
que não proferidas
se tomam por feridas.
07 outubro, 2007
Árvore
seira da paz prometida
mármore devorador
umbigo da terra
ouvido interior
súplica e olvido
eu, entre pedras e perdas
perdido
.....................................arvoando
05 outubro, 2007
02 outubro, 2007
AURS MESCLATZ AB ARGEN
Os teus dedos oxidaram uma espécie de tenacidade quando
habituámos os nossos corpos
sólidos à luz escura
e a espera (o tempo?) tornou-se, de repente, um fim.
satisfizemos o movimento em enlaces precários e
assim, naturalmente, nos preparámos para viver outros modos de ausência.
Nem de ouro ou prata, mas com as matérias que fundes,
dobrámos o sentido da decadência
a morte
pedaços de inferno na origem do amor.
E as razões da poesia brotaram, bêbadas, do metal líquido
enquanto a água da língua continua correndo por esse rasgão …
19.08.2007
Etiquetas: OURO MISTURADO COM PRATA



