Miolando

30 março, 2007

dias há

Há dias fui passear uma ovelha pelas ruas da minha rua. Caminhámos, eu atrás ela à frente.
Numa rua que estava escondida entre duas casas encontrei um tronco ancião com pequenos ramos nus onde corria uma seiva jovem, nova, fresca que explodia no azul em renda filigrana.
Vou tirar uma fotografia, pensei. Mas não tenho aqui a máquina. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Hoje chove. Hoje não é bem azul. O sol não raia. Amanhã.
o
Há dias fui levar a ovelha a circular mais um pouco pelos caminhos perto de casa para que não se torne tresmalhada da sua rua. Agora eu à frente e ela mais atrás. Chamei mais alto. Correu até mim. Parámos ambas em frente ao tronco ainda ancião com pequenos ramos agora com parras de sangue seco.
Onde está a renda? pensei. Ontem, respondeu uma voz que me assaltou e virou a esquina da rua para o sempre.
Ontem. Ontem. Mas choveu. Não era bem azul. O sol não raiava. Ontem.
o
Há dias que deviam ser só dias.

28 março, 2007

OS VENCIDOS DA VIDA


Jantavam...eles também!

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A partir do próximo dia 2 de Abril (Segunda-feira) estará à venda, no Café Progresso, o segundo conto da colecção Há Água em Marte.

“Levi” de Alexandra Saraiva.

Visitem o Progresso, tomem um café e leiam uma história.




Para mais informações,
contactem:

Alberto Lóio
Av. Gil Vicente, 242 r/c
4400-166 Vila Nova de Gaia
Telemóvel: 91 646 5347
E-mail: alberto.loio@gmail.com

pulos

saltava de rocha em rocha
e vi
recortes do rio
o
o pé escorregou
cortei-me
o
o sangue
ao tocar a água
tornou-se gelo
o
flutua
o
e o meu pé
recortou-se
em mármore
o
recordo este dia
recorto a memória
com a tesoura das rochas
o

26 março, 2007

sul

Em tempos, conta-se, ouvia-se um tropel nesta longínqua praia, nas noites de temporal. Às crianças pedia-se que se escondessem, que fechassem portas e janelas e soprassem as candeias. O ruído, vindo do mar, cada vez mais próximo, era o sinal do desencantamento eminente. Em contacto com a humidade e o medo, havia que passar aquela fresta do tempo, de onde escorriam sonhos com desejados mouros, cavaleiros monges e marinheiros perdidos. As velhas rezavam palavras que ninguém guardou, afastando com elas os misteriosos visitantes.
Por isso, nestas paragens, pensa-se, ainda hoje os espaços são abertos, suspensos da luz e do pio inquieto das aves.

Aqui vou permanecer, por vontade, no solo, entre duas pedras verticais. Assim se explica – entendes? – que o meu corpo se faça mais pequeno, para melhor se afeiçoar à estreita morada que o oculta, na incerteza da próxima tempestade.

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campa nário




no meio dos ovos

havia quase três cegonhas

nasceram duas

.

um mês mais tarde

a segunda das duas caiu

a
b
a
i
x
o
.
encolhendo os ombros

a ti maria "que assim tinha que ser:

que prálimentar uma

a outra tem que morrer"

!

( nunca me conformei.

e sentada aos pés do olmo

a ave febril nos braços

decidi olhar pró mundo

com olhos de campanário. )

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24 março, 2007



homem
galgando montanha
... de dorso branco ...

copy paste exit here

mas continua o homem lá continua
o monstro partiu lá fugiu de medo
o dia galgou a montanha lá a montanha
o óleo quebrou do umbral de madeira de cedro
o menino já das asas do pássaro já da cama
continua lá continua em encantamento
o dia já canta o galo já canta o umbral lá canta
o pássaro já pássaro o pássaro lá voa o pássaro lá voa
o homem já solto das amarras já canta das amarras lá canta
uma saída de emergência lá do monstro lá do pensamento

23 março, 2007

uma saída de emergência

O monstro saiu
de baixo da cama
e assustou-se com o que viu
cá fora.

O homem já era pássaro
soltara as amarras

o pássaro já era pássaro
mas ainda voava de rodinhas

Debaixo da cama
a vida é mais simples...
pensou ele.
ooooooooo(iludido)
(ilusão óptica / ilusão óptima)

21 março, 2007

que hoje sim, é dia

20 março, 2007

luz


vermelho sangue



com sangue me conquistaste
terreno baldio
descampado
o
com dedos me desenhaste
me encarnaste
o
agora
vira as palmas
mostra a prova
do crime
o
eu lavo aqui as minhas mãos



18 março, 2007

sabias que... :

: as palavras inteiras
todas
vestidas com cinto
e cinturão
são como aço?

: as meias palavras
as que cobrem os pés
até ao tornozelo
e deixam as pernas nuas
com os pés quentes
são como manteiga?

: a pesar o aço corta a manteiga ?
: com tudo a manteiga suaviza o aço?

: no afinal
é pelo jeito
e não pela força ?.

17 março, 2007

so much closer

vai o fantasma vai o perdendo
vai o alento vai o ganhando
vai o sorriso vai o abrindo
vai o sim vai o sim assim


vai a distância vai a findando
vai o fantasma vai-se findando
vai o alento vai o sorriso
vai a palavra vai a palavra assim

selF


foto analídiamatoS. 07



sempre vOltavam
os dias da escrita
dOs frutoS.

Ontem a pê-ra amanhã

oS
fi-gOs


hOje o A-nanáS.
(a corOa que eternamente julgara sua
jaZia ao ladO
triStemente
decapitada)


(Soube pOst mortem que afinal nem era um ananáS!
era um a-ba-ca-Xi...)





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16 março, 2007

so come on

é preciso coragem
dois fantasmas não se vencem de um dia para o outro
um ou outro sim talvez, não os dois, não em dias
é preciso vento aragem, tempestade em viagem
é preciso víscera e golpe de rim
é preciso tudo isso e algo mais enfim
aguentar a viagem esperar a bonança
mudar de espelho e enfrentar assim,
a visão, a mudança, a andança...

e isso fascina-me

13 março, 2007

frases avulsas

12 março, 2007

(Su) ReaL





Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias

de ternura.

- És tu Ernesto, meu amor?

Não era. Era o Bernardo.

Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.

É o que faz a miopia.



(MárioHLeiria, Contos do Gin-tonic)

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11 março, 2007

o relógio

o tempo,
foge, saltita, ele foge
dedo a dedo, não te mexas, ele foge,
cala-te, escolhe, a parede,
espalma a mão, alinha a palma,
pinta, a cor, de novo, de tempo
de pinta, esconde a parede,
de novo,
mais uns minutos, e é um novo tempo,
hoje.

o poço seca, as moedas morrem, ele foge
saltita, medo a medo, não te mexas
a linha cose-te, a linha estanca-te
num-caminhar-que-não-para
num-excerto-que-descansa-te
num excerto que ainda a linha encara
alinha a mão, espalma a linha
de novo,
de ponterio, mexe-te, ele foge
hoje, hoje,

acorda...

(a partir de thom yorke)

10 março, 2007


O homem era carteiro
de bicicleta
homem de casa branca
de ofício branco

a vida nunca lhe foi doce
mas recusou-se chorar
o sal que devia sair
salgava por dentro

Um dia abriu a porta
tinha uma enorme salina
e um céu azul

esperou que chovesse
para sal-ir

09 março, 2007


Procura-se mulher de colher na boca
sem remédio, veneno ou sopa.

Abandonou a casa
onde nasceu
numa madrugada fria.
Desconhece-se inimigo
desgosto ou segredo
que possa explicar o degredo:
deixou o corpo que vestia
amarrotado sobre a cama
e partiu.

Aqui se deixa um retrato da figura,
e se pede notícia urgente do seu paradeiro:

Cabelo, revoada de anjos bêbados
Boca, reduto de água louca
Lóbulo da orelha, segredo de velha
Menina do olho, coruja de sobrolho
Língua, mina de beijos à míngua
Curva do pescoço, pomba branco osso
Peito, tigela de leite com canela
Barriga, berço de bebé e lombriga
Vulva, lume e lenda, uva e taberna,
Pé, légua perdida

E na boca, colher de mulher outra.

07 março, 2007

Venezia


Oculta-se a alma...
Cobre-se o rosto...
Falam os olhos...

por este andar





andaR

por Aí

eM eStradas

de laMa

preMeditaR a feliCidade

pRometer saCrifícioS

a deUses de espuMa

SeM braÇos

( ofereCer-lhes vinhO qUeijo

e

fruTos saGrados )...

aiNda.

ainDa que SeMpre AiNda



.

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06 março, 2007


























once there was a girl
who seemed to love blank pages
she used to pick each of them
and scribble letters for ages

she could wonder out for hours
and scribble one hundred each time
she could draw one hundred pages
and never would seem to be fine

one fine, close to the birth_day, actually she
did asked: "what evil did i, i do not see
what rhymes, what fault, what me"
"tomorrow" i said "you'll see,
the scribble girl you seem to be"

(a partir de tim burton)

04 março, 2007

asSalto

sábado nem eclipse nem nós nem sol


...


todos os sábados aprendo melhor as letras dos assaltos

da permanência das escarpas de aço





e da cinzentura que se molda dança...


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03 março, 2007

[Venezia]

Rolam algures pelo chão do meu quarto uns quantos sonhos que se foram perdendo pelo caminho [a que tão carinhosamente chama-mos “vida”]

Sonhos desistidos…
Sonhos falhados…
Sonhos oprimidos…
Sonhos acobardados...
Sonhos mal sonhados…
E até sonhos matados…
Todos eles sonhos abandonados e alguns até por sonhar, ainda…
Que maldade esta,
Que vandalismo de sonhos [meus?]


Será que mataram os sonhadores [Eu? Nos?]?
Valerá a pena voltarem? [Voltarmos?]
Será que há vida para além da vida dos sonhos sonhados, a sonhar e por sonhar?
Será que os olhares cruzam sonhos?
E os sorrisos? Cruzam-nos?

Será possível sonhar ainda?
Valerá a pena?
[Não faço ideia… Digo eu…]



La Bella!!!!!

01 março, 2007

chuvisco granizo

uma luz, tenda cor
um abrigo cerco retiro
uma gota, gota a gota o quê
emparedado o ardor
esgaravatar continuamente mente
menos dor menos mente ente
menos luz, menos cor
mais calor mais temor
gota a gota alguma coisa
terra a terra, mas não eu
chuvisco granizo ao ladrão
alguma coisa mas não eu
mas não eu não eu o quê

(a partir de "a Mar e los", luci)

branco encarnado

tal qual
acolhe-me
que nem as ervas da serra
que nem a quentura da terra
que nem um cobertor branco
que sara, o branco, o encarnado
que acolhe, tal qual