Miolando

30 setembro, 2006

mergulho



com a escrita à flor da boca

setembro caminha gravemente rumo

ao

silêncio

28 setembro, 2006

mi-olá!-ndo

nem toda a tarde é ainda toda já
nem estou eu completo recolhido refeito
(atrasada a electricidade, as sombras do jogo)
com o braço que do trânsito me chegou (atrasado) levanto o possível ar em torno de dedos ansiosos como uma indeci
são da chuva ou de bom ou mau tempo
(que peça me movimentará para a casa branca que movimento me vertiginosará sobre a raínha) agito remoínho em mó aceno mó
olá, malta!
grãos de trigo moído farinha pó me cubram as unhas
um pão de alimento um pão de saudade que se come ao contrário, se descome da pança para a boca e se empanturre de fome
olá, malta!
a verdade é que não sei as regras do xadrez e quero tanto convidar-vos para jogar convido
dia e noite dia e noite em quadrados alternados
sobre o tabuleiro

olá
recola-se agora o braço segundo e envio também um laço para entornar os vossos troncos)

AINDA A POESIA


E AFINAL, O BELO É O QUÊ?

26 setembro, 2006

TRANGO É TANGO COM ÉRRE.

as patas andam-me desorientadas subindo as pernas
em movimento em sentido impulsionam em direcção o meu carregar das migalhas
como formiga
que é filha de deus
como migalha
que é filha apara de deus
ando distraído, é o que é, como deus filho de um piquenique em final de tarde
ou um escaravelho
tenho escrito pouco
ou um bicho-de-não-conta-que-gostaria-de
beber ainda toda a água benta e rebentar em
significado
dois ou um
tamanha a sede ainda


{casa do ameal,coimbra.26setembro2006}

25 setembro, 2006

entre


esquecia-me de ser peixe

como tinha prometido aos teus olhos

pisar, então, todas as fronteiras

o diabo à solta em todas as frentes

entrar e sair de poços e rios,

águas, bentas.

beber. demais.

transfigurar-me, ser nenhum dos lados

piqueniques de migalhas, luar

e sede, sede,

sede




24 setembro, 2006

eu e a página branca






23 setembro, 2006

MAÕS À OBRA!

a proposta é simples: continuar. depois de tudo o que dissemos, a escrita outra vez. nós e a página branca. à espera da mancha da palavra.

dália

22 setembro, 2006

Sombrio

Não consigo ver o mar
tapas-me a visão.
Quero ver as ondas
a espuma a espraiar-se
na areia molhada

calada.
Os meus olhos toldados
não vejo o que anda no céu,
pontos negros
que esvoaçam cantantes.
O horizonte sombrio,
as amarras travam-me os olhos
as traves cerram-me as pálpebras
Só vislumbro o azul

a perfurar as cinzas
a elevar-se longe.
Está cheio
demasiado habitado
para partir
resta-me ficar atrás de ti
a ver pouco a pouco

pouco a pouco
pouco a pouco
há pouco...


(foto:David Melo)

19 setembro, 2006

sagres


a luz ainda, invadindo.
escrevemos.

16 setembro, 2006

passages


palavras em espera

12 setembro, 2006

havia

havia coisas a que tínhamos chamado deserto, outras tranquilidade, outras corpo, abraços. estar ali assemelhava-se a um eterno recomeço e no entanto incrustado já um sentido tão contíguo à morte que não podia senão sorrir e olhar as flores túmidas, pequenos nós cegos de beleza provisória e letal, a terra que se vê redonda mordida de fome virgem, tropeçar tardiamente muros, sons cavos de harpas, percorrer tardiamente ainda cegos riscos de chuva quente e ácida nos vidros

08 setembro, 2006

noitescuromuitoscuro.


há dias a corrida era em que direcção.

o asfalto negro, o céu escuro, a sombra preta.

há dias era uma noite enorme envolvendo o corpo como o ar cego como debaixo de cobertores assustados ou um casaco apertado.

ou um abraço de quem temos medo.

há noites era madrugada e o caminho perdido sem luz de lua a orientar sem piscar de estrelas a inventar, o peito a respirar tudo a respirar tudo a respirar tudo em asfixia o coração em asfixia a bater toda a força os pés desamparados no chão a correr assustado como a merda pelas pernas abaixo em asfixia e o eco, apenas o eco dos ruídos estranhos à margem da estrada, lobos à margem das sombras, barulhos assustadores de cães assassinos escondidos no bosque à margem do crude buraco do piche fundo, os teus esgares e os teus gritos toca-me mata-me fura-me

[casa do regado.porto.8 de agosto de 2006]


07 setembro, 2006

Postgram


Olá! Prontos para recomeçar? Dia 14, com ideias e propostas novas, voltamos à estrada.

06 setembro, 2006

4 e 5 de Setembro

Num oceano
desaguaram vários rios
antigos, rendidos, fiés.
Entraram na concha
fizeram sorrisos, gritaram nomes
fizeram fugir palavras, melodias...
De repente chega a pérola
brilhante, resplandescente
os sorrisos tornaram-se risos, gargalhadas
os nomes transformaram-se em versos
soltos a voar a pairar
dentro da concha
dentro do oceano
a fazer ondas de melodias quentes
que deixavam o coração ao borralho.
Tudo fugiu tudo se transformou
tudo se uniu nada se separou.
A água, o suor
a voz, os toques
a língua, as línguas
misturaram-se
e já nada havia
senão aquela concha,
fechada
de quarentena.
Lá fora o mundo
cá dentro um universo.
Pérolas a corpos...

04 setembro, 2006

A 1ª sessão de Setembro

!!! Avisam-se todos os formandos !!!

Por motivos logísticos, a sessão de escrita Criativa agendada para 7 de Setembro,
terá de ser adiada para dia 14 do mesmo mês.


O Miolo mudou as suas instalações para o nº 651 da Rua Sá da Bandeira, sala 10.
Estamos mesmo em frente à Confeitaria Cunha e ao lado da Livraria Vida Económica,
(não confundir com a de Gonçalo Cristóvão), onde as restantes sessões do curso terão lugar.


Até dia 14,
Dias Felizes!

03 setembro, 2006

ainda o reboliço(!?)


Pois,supostamente este blog nasceu para andar em reboliço (definitivamente, reboliço), certo?
Não terá sido a melhor expressão, diria eu, mas o que é certo é que isto de controverso, pouco tem - partindo do tal princípio da dinâmica subjacente à escrita e geradora de reboliço. Isto está uma verdadeira pasmaceira: é que embora tenha "andado" quase sempre, está inegavelmente morno como diz e muito bem a Patrícia aí atrás, porque são sempre os mesmos a escrever e a comentar. Pois bem, nós, daqui, gostávamos de saber o que se passa por aí!!!
Dêem sinais de vida e, já agora, se não quiserem mesmo escrever, ao menos comentem o que nós escrevemos, contestem, proponham, batam, sei lá!
Quanto ao adiamento da 1ª sessão, poderia passar para o dia 8 ? Para mim era melhor do que na semana seguinte, pronunciem-se!
Ah, aqui eu só sou porta-voz de mim própria, espero que fiquem bem e apareçam!!!
abraços e beijos

01 setembro, 2006

Quando um dia me deu para as rimas

Praia vazia
é sinal que o mar já não vem.
Só chega a maresia
que nem o cheiro do mar tem.

Praia vazia
Pegadas na areia.
Vieram durante o dia
trouxe-as a maré cheia.

Praia vazia
Grãos espalhados
que uma onda trazia
com os segredos contados.

Praia vazia
sem o meu amor
apenas tem a maresia
que só traz cheiro mas não traz calor.
16/12/2000


Mais tarde acrescentei uma nova quadra que deixei escrita a lápis separada do poema escrito a tinta. Não sei por que razão! Acho que foi uma filha não planeada...

Praia vazia
sem significado
de onde apenas se via
o mar para ser desvendado.

erva, dentes

às vezes parar de respirar para ver o que acontece as fontes às voltas, o cântaro de barro, ânfora, numa dança louca, às vezes correm palavras que ardem que enleiam que prendem, às vezes

um dia qualquer ando mais à procura de quê, vidro, translucidez, a ânfora intacta e pousada nos aros de metal, vejo a transfusão da água, reparo na pressa da deslocação, é e já não é, vamos

mistérios e milagres é bom não falar, presságio, enguiço, afinal entreaberta nos olhos a janela das coisas líquidas e azuis, transparente, inevitável o fogo logo traz cinza, ocasos urgentes em qualquer tempo, verão, primavera

as pernas esticam crescem sobem trepam, bright red, "to hell with small literature, we want something redblooded", libertar a queda total, a preguiça total mergulho, rainfalling, passar por entre as gotas, neves

às vezes querer sobretudo os erros todos os erros num imenso erro, cortes epistemológicos, morfológicos, semânticos, esfuracar as dimensões até ao intragável ser cada vez mais perto do indizível

a intensidade que lavamos os dentes, mastigar restos de dedos triturados num minuto qualquer ao som duma música que não sai nunca mais por mais que se esfregue com as lixívias dos dias

não aprender nunca a não quebrar o silêncio, não tecer os fios deixar para sempre enrolado o novelo pressentir mais que a vida não pode deixar de ser apenas transformar quase silêncio e luz às vezes luz, sabemos

a sangue na boca ainda à procura duma chave qualquer, identificar o espanto,engolir à pressa, passar por trás da cortina do vento, ouvir os pássaros, de que líquido suspenso a voz do musgo a crescer descontrolado no pequeno degrau

waiting for godot?

este nevoeiro cerrado e a noite
viajaram -me
até ao poema da Sofia,
daqueles que só mesmo ela diz
assim

" Espero por ti o dia inteiro

Quando na praia sobe,

de cinza e oiro,

O nevoeiro

E há em todas as caras o agoiro

De uma fantástica vinda."