Miolando

31 janeiro, 2007

à manhã


Bebo a manhã
com sede de orvalho
e travo a sol
eu
epifania
eu
luz cadente
às pingas
salpica o rosto
de lava
eu
o azul celeste
procura
o azul marinho
nesta face minha
eu
viro a cara
dou a outra face
eu
mas só tenho sal
de água doce

30 janeiro, 2007

ruína

a eminente cadência
a

d
e
c
a
d
ê
n
c
i
a iminente


da civilização


mas até na ruína
é bela sem senão!

28 janeiro, 2007

é de escrita que falamos

estou triste,
são coisas minhas, já passa
foi sempre assim, o rosto palmilhado
por sulcos de lágrimas abertos
ora para dentro ora para fora
ora logo ou sem demora
estou a pensar,
na vida na loucura
a eterna estrada sem procura
esta estranha caminhada
esta entranha sufocada
esta escrita que te falo
esta procura do tudo
esta, na busca do nada...
(a partir de guadalupe arruda)


EPITÁFIO (morrer é só não ser visto)

Sem mais delongas, cerco-me do intenso verde,
nas misteriosas espessuras.
Chego um pouco tarde, é certo, a um lugar que
não comporta qualquer fidelidade.
Aí, o musgo deixa escorrer pesados líquidos,
sobre o chão de húmus e flores putrefactas.
Nestas paragens ninguém suspeita de quem
já não pode ser surpreendido pela morte.
A vida, lá fora, nos dias paralelos, é mais intensamente exposta.

Por isso – eis o equívoco – todos dizem que é tempo de colheitas.
Ignoram, porque assim deve ser, que
há outra ceifeira
respondendo à canção,
que as mulheres entoam,
vinda do fundo do vale.



04.07.2005, Poemas do Crescente

27 janeiro, 2007

da morte lisa


querida maria...


lembrei-me do jacques brel a dizer que era triste morrer na
primavera.

e portanto janeiro é o mês da descida à terra. da quase sempre involuntária descida à terra.

fala a minha mãe da ausência de legumes... enterraram a cabeça no frio a sonhar cor-de-verde...

muitos morremos da morte. todos.
antes-morte-lisa-que-morte-lenta-antes.

o que me dizes da tua dor face às minhas destrambelhadas palavras de consolo:

Vive, minha amiga. Com as pessoas. sempre

com as pessoas. Um beijo. Ainda estou como

uma pena esvoaçante que não tem ideia de

que lado vai tocar a brisa mas anda

dançando no espaço, por cima de tudo. Os

pássaros pousam onde encontram um poiso

nem que depois o sintam como

circunstancial, voando de novo para outro.

Pois nós devemos aprender com os animais e

as plantas a viver ...


dizes tu de ti para mim três dias depois da mensagem líquida das lágrimas.

sorrio-te.

abraço-te.




porque de outro me inspirei

A casa rebentou

pelas costuras

tem uma baínha, linha fina
que alinha
as paredes de feltro

casa quentinha
casa morninha
casa minha

não sei o que foi
não sei o que lhe deu

uma vez espreitei da janela
lá fora,
uma espreitadela

ela injuriou-se
enfureceu-se
e inchou inchou inchou

e rebentou

pelas costuras

estava cheia de letras
palavras

deambulavam pelos quartos
vagavam pelas salas
saíam pelas frinchas

a linha já não alinha
já não alinhava
já não alinhavava

inchou inchou

empurrou empurrou

e rebentou

pelas costuras

agora é com palavras

que tenho de a encher

é com palavras
que tenho de a estofar

a linha que escrevo
é a linha que alinha
as paredes de feltro

casa morninha
casa quentinha
casa minha

casinha

26 janeiro, 2007

corpos (layer 26)

sei de algo que nunca soube
de uma porta que não se abriu
sei da ausência dum compasso
instrumento que nunca foi
sei da porta abri seguir
o compasso brotava o que dói
que nasceu a ruir.

esse desejo em que te pinto
de cor fogo esgotado
da tela das cores te finto
nas palavras me acho achado
escuta o meu regaço
a mancha do fogo alado.

25 janeiro, 2007

a eterna corrida (adulterado) (três vezes)

Dessa tarde desse lado
levo comigo o gosto
de essencia abaunilhado
dessa doce sedução
de outra demencia tomado
sentemo-nos de palavras
sentir-nos-emos de amarras
dessas palavras que te falo
nós e da vida, desse travo
da essencia dessa corrida,
essa eterna, de um trago
dessa voz aquecida
pelo som de certo fado
decerto açucar abaunilhado
de uma certa lua tomado.
mas deixa mostrar-me,
pelas palavras, pelo toque
pela janela prostar-me
até que o dia me troque
de baunilha...

23 janeiro, 2007

AULA DE GUITARRA. luci.

o corpo estendido no olhar o tecto é descritivo
o corpo estendido a olhar o tecto:
quando se sente fortemente a imaginação:
de que vai ruir esmagando-nos a cabeça:
e não há movimento:
não há reacção de fuga:
não há sequer pergunta que suporte tanto peso do vazio

queria abrir a boca e fazer nascer flores
imagem simples
fazer nascer flores
não o universo ou átomos ou pinturas expressionistas
apenas flores;
porque sinto flores;
rio flores;
canto flores;
mas jorro sede e deserto:
não há sequer pergunta que surja de tanto peso do vazio

escrevo-lhe
de novo me envio para que me venha visitar debaixo desta pedra:
é essa a esperança:
debaixo desta pedra insuportável neste quarto e que me traga flores,
tenho sede e farto-me de olhar para mim no reflexo deste tecto que vai cair vai cair vai cair

este verso será o mais longo.
apetece um cigarro impossível.
nenhuma noite terminará puxando-lhe a palavra última.
apetece fumo.
apetece desaparecer com fumo.
não receio o escuro dos meu olhos.
não tenho medo de os fechar abrindo a noite no teu colo.
posso pousar em ti.
posso deixar em ti tudo mas tudo o que o meu corpo é,
posso despir-me.
este será o mais comprido desígnio.
o mais completo verso.
vem ver:
consigo equilibrar a minha solidão à varanda suspensa deste ruído de fábrica
numa só perna os ossos não mordem ao frio que me abraça e
(ligeiro súbito tímpano ao ouvido - eco de cão de eco)
e o olhar invertido sobe a noite como se tudo subisse a rua que sobe e nada se passa
e nada se passa

fumo
fumo muito
calmamente

vai cair vai cair vai cair

vem ver

22 janeiro, 2007

mil agreS


paula rego. serralves. 2006





















permaneço de focinho no ar a farejar o infinito a infinita angústia a infinita fome a infinita ausência.

ó deus que me amas num amor incerto e demasiado cerebral demasiado transversal demasiado apertado. e que donde moras me lanças migalhas de mim e aos bocados me arrasto térrea me arrasto chumbo e falta sempre um pedaço.
( eu ó deus sombra inacabada da tua sombra que me cega farejo o teu infinito nos ventos e nas ervas...)

abres-te dos fogos do céu sem te fazeres anunciar desces do teu esdrúxulo assento dourado e cais-me nos ossos demasiado expostos demasiado frágeis
tu pesado eu muda.

faço-te frente de garras em riste de cabeça em riste de pânico em riste começo a amar-te de pânico em riste e as mãos no ar cardos tesouras não me cerques não me confundas não me lances fogo não me esmagues não me devores.
marro inútil e cega o teu sagrado corpo azul omnipresente corpo. a naufragar na tua pálida leveza espumosa deixo

amassar de mim o teu milagre.

ó deus que estás sempre em mim e eu nunca em ti e eu nunca em ti. que só os teus dedos tenazes na garganta circulam torrentes de leis e orações a perderem-me a faringe a prenderem as cordas vocais e eu invisível unicelular a furar pedras até ser água. e de novo o milagre: eu quase fungo quase alga reaprendo a nadar nos fumos de santiago. nas águas vermelhas do nilo.

21 janeiro, 2007

mergulho 3


"Nous sommes tous en train de mourir, ce n`est qu`une question de temps.

Certains d`entre nous meurent simplesment plus tôt que d`autres."





Dudjom Rimpotché in offrandes

LUTO

Do Outono II


Sem vento, a minha voz secou
aqui, neste parque de cedros quietos.

Tudo é como ontem era, mas a minha
voz, na minha face, calou-se,
porque só o vento me trazia a fala,
vinda de algures,
com notícias de alguém,
indo para além, para outro ouvidos, num país.


In memoriam Fiama Hasse Pais Brandão

FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO.

de quando em imprevisto quando chega-se transpirado de correr a manhã de domingo e ao abrir dos olhos o sempre súbito pânico da certeza do possível cancro na flor

a que pétalas nos podemos socorrer, onde estão, entre que páginas de que livros as guardamos

e uma vontade enorme de chorar e pedir desculpa

(casadesãodinis,porto.21dejaneirode2007)

19 janeiro, 2007



ESTABILIDADES

As carruagens circulavam num

desenho contínuo

divergiam entre linhas paralelas.

Cruzavam sempre as horas no minuto axial

na impressão instável de velocidades

verdes e amarelas

azul violeta azul azul.

Ulisses, amarrado a um poste antigo, negava

que as tintas voláteis pudessem ser suas.(de que lado surges?)

O herói de mil ardis culpa-se

para a eternidade

por ter cegado Polifemo.

Por isso pinta os comboios enquanto

foge na vertigem

contemporânea de

uma espécie de maldição.

janelas

Estes cercos que me encontram
que me deixam e me empurraram
que a cerca que do nada gotejou
e os dedos que do nada me encontraram

Esta cerca do infinito me limita
esta alma dos teus dedos me arrasta
este eco que da cerca me tolera
este eu que dos dedos me afasta

Este ser que sentindo me tomou
em sentido que nao minto, me perdi
esses dedos que me tocam que eu sinto
estes dedos que me encontram que eu senti.

liquida-mente

a minha cadela pulga. em pleno voo. foto do david. 2006


( vestida de peles. assim amo).

um: ...descasco a laranja. choro sobre a beleza que se abre. líquida.

(sei: que não estou perdida.)


dois:... escrevo coisas porque evito a proximidade dos outros.

porém. sei:

preciso dos outros para não me sentir perdida.

três:...memorandum:

no

espaço-vazio-entre-as-linhas estendo a mão às palavras.

(sei: que o metal não ilude a água a nascer nos sentidos).


18 janeiro, 2007

uma possibilidade



D. Quixote chorava
ao espreitar pela fenda

do outro lado da rocha
via um cavaleiro
que queria combater

deste lado do granito
havia um cavaleiro
que queria combater.

Entre os dois
uma linha sombria, ténue

e uma fresta...

17 janeiro, 2007

AULA DE GUITARRA. concerto barroco.

cortina de chuva como cortina do banho ou cortina da janela e desta para a varanda.
é possível imaginar um país onde chova tanto se deprima tanto.

existe de certeza uma terra que se afoga abrindo a torneira (o teu corpo na banheira).
onde a água tenha a força de paredes (o meu peso sobre o teu).
e te aprisione a tarde inteira dentro do quarto como no interior de uma caixa apertada (esmago as pernas sobre o dorso que me ofereces).
escureça tão depressa: bicho preso escapa para fora em raiva ou para dentro em melodia fininha serra mais ou menos triste.
tristinha.
não é saudável a grilheta mas pode ser arriscada a fuga.
não há garantias de que te chegue hoje.
não sei se me receberás despindo-me com beijos a pele ensopada.
quanto mais se puxam mais justos se tornam até fazer sangue em espécie de paixão: não forces os nós da corda.
soltar-te-ei depois pela manhã, amanhã ou depois.
escuta o concerto barroco que deixei a soar.

(casadaconchada,coimbra.17dejaneirode2007)

16 janeiro, 2007

AULA DE GUITARRA.

ao dobrar da perna sentado na cadeira do palco, ao encostar na barriga e no peito, os dedos que se seguirem em bailado sobre as cordas serão distantes de toda a luz ausente que entretanto atravessei para chegar até aqui, quase não parecendo meus, quase não parecendo eu:
subo-te como os cães que mostram os dentes de pânico e de raiva
ao dobrar da perna (o público negro em silêncio aguardando), ao encostar na barriga, os dedos que se seguirem em bailado sobre as cordas (o eco dos sons em vibração no peito) serão longínquos da madrugada que desde sempre me atravessa, quase não parecendo eus, quase não parecendo meus:
trepo-te rasgando cego o amor que me tens, em espécie de vingança sobre o destino que ao meu poema todos os dias se impõe
perdoa
ao dobrar da perna, ao encostar na barriga o corpo da guitarra, os dedos depois em balanço sobre as cordas (eu dentro de ti) tremem o medo de não conseguir fazer-te dançar com esta melodia triste
(casadesãodinis,porto.16dejaneirode2007)

15 janeiro, 2007



Rêve, assim se assina este poema urbano, feito a spray, em velocidade, num lugar sem nome, antes que...

o sonho flutua - como sempre foi - na parede opaca e sólida da impossibilidade.

14 janeiro, 2007

das saias do mar

A menina das sete saias
não sabia o que estava nos véus

Descortinou

uma nuvem siamesa
o horizonte pendurado
a areia molhada
a rocha entrecortada
e um espelho
grande puro
mostrava um mar a esvair-se

No final do dia

já não era
das sete saias a menina
ola!

(foto:joelfaria)

13 janeiro, 2007

roma



...claro que a flor da romã teve que reparar

que b. a olhava intensamente.


(momentos antes de se perder dentro dela)

cata-ventos



levada nas brumas que empurram os ombros

fundamentalmente falo de romãs

(as que enfeitavam as noivas de roma )

são belas as romãs do frio

permanecem algum tempo enroscadas nas pernas

e soltam-se a rolar pelas ruas lisas

o mundo tinha ali passado há algum tempo

e fora-se embora.

11 janeiro, 2007

FURTO.

um reduto como entrar no quarto e abrir a boca e água fresca;
a vida resolver-se como o passar da mão sobre o pêlo do tempo.
suave.
sem outro problema.
sem versos.

coimbra. 12dejaneirode2007.

claridade - acto 3 - acção secundária

era tarde... e alguém chegava,
a luz de fora, impulsos de cor
pedaços de sombra furagida
vagas de odores e amuos,
e andava, bailava, badalava

um zás, um foco e um arrasto
um golpe na penumbra, que vibra
pedaços de carne que ganham vida
vagas de força energia em movimento
os fios que esticam, e termina.

momento no tempo


quando plantaram o rio
no seio das encostas
não me disseram que eras tu
olá
quando os espraios do sol
tocaram a pedra
não me avisaram que chegavas
olá
fiquei parada
a ver o tempo
à espera
à tua espera
olá
olá
Já chegaste?

10 janeiro, 2007

Ensaio à minha loucura

Parece que me perdi lá pelos lados do nada, como alguém que procura o inatingível e sonha com o pecado de quebrar todas as regras da lógica, talvez por não haver lógica que supere a loucura, talvez por a razão ser inimiga da lógica, talvez por tudo estar longe do seu lugar, talvez por eu continuar aqui e continuar a fazer ouvidos de mercador à força que me quer fazer avançar, talvez eu sonhe com o pecado, não acredite que exista lógica ou seja adepta da loucura…
Mas não será tudo isso o mesmo?
Talvez a loucura da minha existência seja o desejo de procurar o impossível, o pecador dos meus sonhos…
Mas como é possível sobreviver assim?
A razão diz que sobreviverei como todos os outros… já a loucura pergunta-me se sobreviver faz parte dos meus planos futuros… Como em tudo sempre o fiz... persigo a loucura até não mais poder. Que seja isso o final ou o renascer, que seja a metáfora ou a hivernação, o pecado salvador ou a razão tresloucada, que seja uma vida contada aos palmos ou uma voz que grita PARA!... Que tudo isto seja o delírio de alguém que apanhou aquilo que persegue ou lamentos de um eterno perseguidor… seja lá o que for… eu não quero mais saber…

3/1/2007
3:31h


PS: Voltei ao mundo dos vivos...

09 janeiro, 2007



são linhas

paralelas também.

o próprio movimento

e o risco.

08 janeiro, 2007

FURTO. acto2. cena 3. esta noite disse.

ELE:
ESTA NOITE DISSE-LHE: DIFICILMENTE DUAS LINHAS SE PARALELAM EM QUE SENTIDO (ÚNICO?), UNINDO-SE EM UNA (UMA?) OU MANTENDO DIVISÃO MAS SE ACOMPANHAM EM QUE DIRECÇÃO - COMUM; LINHA A OU LINHA B; INTERNA OU EXTERNA; DOIS TEMPOS; DUPLA DIMENSÃO; PESSOAL E SOCIAL: É UM ACASO COINCIDIR E SEREM FELIZES; POR VEZES O DESEJO DE CUMPRIR ALGO MAS QUE CIRCUNSTÂNCIA NÃO PERMITE; CONVIVER; FEIA DE DIA PRINCESA À MADRUGADA
ELA:
ESTA NOITE DISSE-LHE: É-SE POETA PORQUE SE NÃO TEM UM GRANDE AMOR COM QUEM SE ACENDA E APAGUE A LUZ; COM A FORÇA DE UNS LÁBIOS TRANSFORMAMO-NOS FACILMENTE EM SAPATEIROS OU JARDINEIROS
ELE:
ESTA NOITE DISSE-LHE: ESTA NOITE QUERO PARTIR; ESTA NOITE NÃO GUARDO A GUITARRA E VOU AO ESCURO ASSASSINAR; DEPOIS DA MÃO CORTADA ASSISTIREI AO CONCERTO
ELA:
ESTA NOITE?
(CASADESÃODINIS,PORTO.8DEJANEIRODE2007)

CABíRIA

éramos aqueles que entravam, a que erguia o busto,
ou os outros que saíam, deuses devassos, numa náusea intermitente

estávamos também no centro dos
beijos

sem direcção
dos corpos abandonados
em lânguidos enjoos

de tudo.

fomos uma deslocação
em hipnoses matinais de amantes electrónicos
um movimento
quase nada

desfasado

uma perda de sentido (nunca nos vemos, mesmo quando).

havia por lá corpos travestidos que juncavam os caminhos

e passámos, então, a encenar madrugadas (sem reflexos?)
em todas as ruas

envoltos em flores artificiais.


do amor possível
trouxemos a eternidade, confundida na luz intermitente.



06 janeiro, 2007

uma rosa

E de espinhos nasceu uma rosa
E de uma rosa nasceu um sonho
Do sonho nasceu a ideia
E da ideia a determinação
A determinação fez a obra
E da obra nasceu a crítica
A crítica fez o homem
E o homem arrancou a rosa
12-01-2002

05 janeiro, 2007

trans parências







querido X


( eu não sou da conchada, seja lá o que isso for).

vivo no porto mas nasci em trás-os-montes. e é de lá que, de facto,

sou. ando talvez um bocado(!) fora do mundo. porque cresci "fechada".

e, porém, de tão fechada, abri!

nasci quase na fronteira. no planalto mirandês, um lugar entre,
entre-

tanto
!!!:



entre também rios. o douro, esmagado nos montes e o rio sabor (sim, sa-bor!),

oliveiras, gado, serras. anões. almas vagabundas. e trigo. e serras de novo. de cores no fundo


dos dias longos.

dias iguais excepto nas cores. e serras de novo.

donde as trovoadas se desprendem e abrem noutras cores ainda e em mundos selvagens,

únicos. alucinantes!!!

lia torga e imaginava o que haveria para além dos muros estreitos do quintal.

as luzes pra lá da fronteira, vistas da casa da

minha avó, afligiam-me e apertavam-me o peito de ânsia e assombro. ficava a olhá-las

lon-ga-men-te...



venho tacteando devagar o fio com que me puxaste. toquei, de olhos fechados, o tecido final e


entrei nessa água que

corre e se inclina para os lugares que mais desconheço.

precisamente. no tempo
perfeito.



beijos. ( de cores, as que apanhares entre a água e os olhos)


sou a luci






FURTO-escuridão- acto 2 - p(l)ano ambiente

A CHUVA RECORRENTE EM TUDO O QUE SE DESFAZ, O REFRÃO ATRÁS ENQUANTO AVANÇA (RECORTANDO EM FINOS FIOS TODO O TEMPO EM QUE SE É EM CENA - ASSIM COMO LÁGRIMAS SOBRE O VIDRO À LUZ QUE FARÓIS ATRAVESSAM E É MADRUGADA), A MELODIA ATRASADA NA SUA GARGANTA, JAMAIS SE ESQUECE O SEU ESFORÇO EM ACOMPANHAR A CANÇÃO DO RÁDIO, DON'T SAY IT'S OVER, E A VIAGEM NÃO SE APAGA, INTERMINÁVEL, RECORRENTE
(ELE:
DÓI COMO A MERDA ESTA SALA VAZIA SALA DA MADRUGADA, PLENA DE FANTASMAS DE HOMENS FRACOS VULGARES MULHERES FILHOS TROCADOS FAMÍLIAS EMPRESTADAS, MALDITA ALMA QUE ME POSSUI COM TODO O PASSADO QUE NO INSTANTE BATE NA DISTRACÇÃO COM UMA CANÇÃO ANTIGA DE DOMINGO. IT'S OVER)
(ELA:
FAÇO LEVE UM AMOR LONGO COMO UM SONO FINO QUE VEM DE ONDE: LUTO MERECE O LUTO QUE VISTO PARA DORMIR - NÃO AS PAREDES , NÃO O TEMPO QUE AS SUSTÉM, O ECO QUE FIZER O SEU RESPIRAR ANTIGO DEITADO A MEU LADO SERÁ ESCUTADO AO CONTRÁRIO NA SURDEZ DO SABOR A SANGUE: RARO VALE A PENA MAS NÃO O AFLORAREI A NOITE TODA. A NOITE TODA ME NÃO TOCARÁ. DON'T SAY IT'S OVER)
MIDÕES, TÁBUA. 5 DE DEZEMBRO DE 2007

04 janeiro, 2007

claridade - acto 2 - p(l)ano de ambiente

ouves? foi uma gota, um salpico, um pedaço de mar... caíu, ouviste? Vem mais, eu sinto... sabes aquelas músicas que sentes o exacto momento em que o som deixa o silêncio da respiração? Aquele impulso flutuante que o deixa de ser porque a gravidade assim o disse... dá para sentir. O vento também, as teias vão resistindo, por enquanto. As ruas, os passeios... o vento ao perto, as nuvens ao longe, e a chuva entretanto... Que ouves? Há pernas ali algures, no escuro, não ouves? Eu sinto. a madeira range em sulcos de cãibras... retorcem, recolhem, recalcam, o pó, os cheiros, os ventos, os passos alheios... E atrás do pano? Uma gota, um salpico, um pedaço de mar, de maresia, de devolver revolver àgua e areia na praia, de nevoeiro salgado,ao longe... ouves?

FURTO.

ROUBO A MADRUGADA: E: DEIXANDO-TE A DORMIR, ESCOVA DE MELODIA, SUSPENSO NA FORTE CORDA DO FUMO VOLTO A SUBIR AS ESCADAS PARA A TORRE MAIS ALTA: É DE LÁ EM CIMA (NA POSSIBILIDADE DE ME LANÇAR NO VAZIO COM ASAS FALSAS E TONTAS) QUE AINDA VIVO E ANOTO. CASA DA CONCHADA,COIMBRA.4 DE JANEIRO DE 2007

03 janeiro, 2007

claridade, acto 1 - p(l)ano social

Solta-a, salta-a, pula-a pelo mundo, pelo menos do lado de cá do horizonte, que o dia já pulou para o outro lado, e agora, só a noite resta aqui. É morna, é doce, e apetece, um refúgio que foge e acolhe ao mesmo tempo, que ilumina no escuro, e me torna atento à luz fugidia que a lua me habituou... serena. Eu queria solta-la, rodopiar e habitar um espaço mais ali, ao de longe, perto da vista ainda, expirando um outro reflexo, inflexo, salta-la, por aqui e por ali, entre panos, entre fios, como uma luz em arrasto gravado num papel que brilha hoje, e amanhã, e depois... por ora, a penumbra habita, em quotidiano territorial, entre a luz da lua, e o dia do outro lado do pano...

02 janeiro, 2007

aqua est... plus et plus

\\ \\ \\ \\ \\ \\ \\\\
Nasce em orvalho
go/ti/nha a go/ti/nha
um manto que cobre
//////////////////
///////////////
\\ \\ \\\\ \\\ \ \
Vem miúda
miudinha
saltitar de beiral
em beiral
a conta gotas
/
//
///
////
Chega grande e pesada
cai em dilúvio
contas gotas?
////////////////////////
///////////////////////
não há conta gotas possível
\\ \\\ \ \\\\ \\ \ \ \ \\\ \ \ \ \
\\\\ \\\\ \ \\\\ \ \ \ \ \ \ \
\\\\\\\ \\\\ \ \ \ \ \\
\ \ \um\\ \\\ \\\ \
\
//
\\ mil\\ \\
\\ \\ \ \ \ \ \\ \ \ \ \ \\
\ \ \ \ \\ \ \\\\\\\ \\ \
\ \\ \ \ \ \\ \\ \\\ \ \ \
\\ \ \ \ \ \ \\\\\\\\\
já nada é preciso!
////////////
////////
Apenas
/\\// a liberdade \//\\
\\\\\\\\\\\\\\\\\ l\\iberdade idade //////////////
\\\\\\\\\\\\\\\da idade crescida. ///////////

01 janeiro, 2007

rasgos

Vou deixar o farrapo velho
vou rasgar trapo novo.

Enquanto isso

vou vestir um fato de super-herói
sem capa

essa
só a uso

voar
quando aprender a