31 janeiro, 2007
30 janeiro, 2007
28 janeiro, 2007
é de escrita que falamos
estou triste,
são coisas minhas, já passa
foi sempre assim, o rosto palmilhado
por sulcos de lágrimas abertos
ora para dentro ora para fora
ora logo ou sem demora
estou a pensar,
na vida na loucura
a eterna estrada sem procura
esta estranha caminhada
esta entranha sufocada
esta escrita que te falo
esta procura do tudo
esta, na busca do nada...
(a partir de guadalupe arruda)
EPITÁFIO (morrer é só não ser visto)
Sem mais delongas, cerco-me do intenso verde,
nas misteriosas espessuras.
Chego um pouco tarde, é certo, a um lugar que
não comporta qualquer fidelidade.
Aí, o musgo deixa escorrer pesados líquidos,
sobre o chão de húmus e flores putrefactas.
Nestas paragens ninguém suspeita de quem
já não pode ser surpreendido pela morte.
A vida, lá fora, nos dias paralelos, é mais intensamente exposta.
Por isso – eis o equívoco – todos dizem que é tempo de colheitas.
Ignoram, porque assim deve ser, que
há outra ceifeira
respondendo à canção,
que as mulheres entoam,
vinda do fundo do vale.
04.07.2005, Poemas do Crescente
27 janeiro, 2007
da morte lisa
querida maria...
lembrei-me do jacques brel a dizer que era triste morrer na
primavera.
e portanto janeiro é o mês da descida à terra. da quase sempre involuntária descida à terra.
fala a minha mãe da ausência de legumes... enterraram a cabeça no frio a sonhar cor-de-verde...
muitos morremos da morte. todos.
antes-morte-lisa-que-morte-lenta-antes.
o que me dizes da tua dor face às minhas destrambelhadas palavras de consolo:
Vive, minha amiga. Com as pessoas. sempre
com as pessoas. Um beijo. Ainda estou como
uma pena esvoaçante que não tem ideia de
que lado vai tocar a brisa mas anda
dançando no espaço, por cima de tudo. Os
pássaros pousam onde encontram um poiso
nem que depois o sintam como
circunstancial, voando de novo para outro.
Pois nós devemos aprender com os animais e
as plantas a viver ...
dizes tu de ti para mim três dias depois da mensagem líquida das lágrimas.
sorrio-te.
abraço-te.
porque de outro me inspirei
A casa rebentou
pelas costuras
tem uma baínha, linha fina
que alinha
as paredes de feltro
casa quentinha
casa morninha
casa minha
não sei o que foi
não sei o que lhe deu
uma vez espreitei da janela
lá fora,
uma espreitadela
ela injuriou-se
enfureceu-se
e inchou inchou inchou
e rebentou
pelas costuras
estava cheia de letras
palavras
deambulavam pelos quartos
vagavam pelas salas
saíam pelas frinchas
a linha já não alinha
já não alinhava
já não alinhavava
inchou inchou
empurrou empurrou
e rebentou
pelas costuras
agora é com palavras
que tenho de a encher
é com palavras
que tenho de a estofar
a linha que escrevo
é a linha que alinha
as paredes de feltro
casa morninha
casa quentinha
casa minha
casinha
26 janeiro, 2007
corpos (layer 26)
sei de algo que nunca soube
de uma porta que não se abriu
sei da ausência dum compasso
instrumento que nunca foi
sei da porta abri seguir
o compasso brotava o que dói
que nasceu a ruir.
esse desejo em que te pinto
de cor fogo esgotado
da tela das cores te finto
nas palavras me acho achado
escuta o meu regaço
a mancha do fogo alado.
25 janeiro, 2007
a eterna corrida (adulterado) (três vezes)
Dessa tarde desse lado
levo comigo o gosto
de essencia abaunilhado
dessa doce sedução
de outra demencia tomado
sentemo-nos de palavras
sentir-nos-emos de amarras
dessas palavras que te falo
nós e da vida, desse travo
da essencia dessa corrida,
essa eterna, de um trago
dessa voz aquecida
pelo som de certo fado
decerto açucar abaunilhado
de uma certa lua tomado.
mas deixa mostrar-me,
pelas palavras, pelo toque
pela janela prostar-me
até que o dia me troque
de baunilha...
23 janeiro, 2007
AULA DE GUITARRA. luci.
o corpo estendido a olhar o tecto:
quando se sente fortemente a imaginação:
de que vai ruir esmagando-nos a cabeça:
e não há movimento:
não há reacção de fuga:
não há sequer pergunta que suporte tanto peso do vazio
queria abrir a boca e fazer nascer flores
imagem simples
fazer nascer flores
não o universo ou átomos ou pinturas expressionistas
apenas flores;
porque sinto flores;
rio flores;
canto flores;
mas jorro sede e deserto:
não há sequer pergunta que surja de tanto peso do vazio
escrevo-lhe
de novo me envio para que me venha visitar debaixo desta pedra:
é essa a esperança:
debaixo desta pedra insuportável neste quarto e que me traga flores,
tenho sede e farto-me de olhar para mim no reflexo deste tecto que vai cair vai cair vai cair
este verso será o mais longo.
apetece um cigarro impossível.
nenhuma noite terminará puxando-lhe a palavra última.
apetece fumo.
apetece desaparecer com fumo.
não receio o escuro dos meu olhos.
não tenho medo de os fechar abrindo a noite no teu colo.
posso pousar em ti.
posso deixar em ti tudo mas tudo o que o meu corpo é,
posso despir-me.
este será o mais comprido desígnio.
o mais completo verso.
vem ver:
consigo equilibrar a minha solidão à varanda suspensa deste ruído de fábrica
numa só perna os ossos não mordem ao frio que me abraça e
(ligeiro súbito tímpano ao ouvido - eco de cão de eco)
e o olhar invertido sobe a noite como se tudo subisse a rua que sobe e nada se passa
e nada se passa
fumo
fumo muito
calmamente
vai cair vai cair vai cair
vem ver
22 janeiro, 2007
mil agreS
paula rego. serralves. 2006
permaneço de focinho no ar a farejar o infinito a infinita angústia a infinita fome a infinita ausência.
ó deus que me amas num amor incerto e demasiado cerebral demasiado transversal demasiado apertado. e que donde moras me lanças migalhas de mim e aos bocados me arrasto térrea me arrasto chumbo e falta sempre um pedaço.
( eu ó deus sombra inacabada da tua sombra que me cega farejo o teu infinito nos ventos e nas ervas...)
abres-te dos fogos do céu sem te fazeres anunciar desces do teu esdrúxulo assento dourado e cais-me nos ossos demasiado expostos demasiado frágeis
tu pesado eu muda.
faço-te frente de garras em riste de cabeça em riste de pânico em riste começo a amar-te de pânico em riste e as mãos no ar cardos tesouras não me cerques não me confundas não me lances fogo não me esmagues não me devores.
marro inútil e cega o teu sagrado corpo azul omnipresente corpo. a naufragar na tua pálida leveza espumosa deixo
amassar de mim o teu milagre.
ó deus que estás sempre em mim e eu nunca em ti e eu nunca em ti. que só os teus dedos tenazes na garganta circulam torrentes de leis e orações a perderem-me a faringe a prenderem as cordas vocais e eu invisível unicelular a furar pedras até ser água. e de novo o milagre: eu quase fungo quase alga reaprendo a nadar nos fumos de santiago. nas águas vermelhas do nilo.
21 janeiro, 2007
mergulho 3
"Nous sommes tous en train de mourir, ce n`est qu`une question de temps.
Certains d`entre nous meurent simplesment plus tôt que d`autres."
Dudjom Rimpotché in offrandes
LUTO
Do Outono II
Sem vento, a minha voz secou
aqui, neste parque de cedros quietos.
Tudo é como ontem era, mas a minha
voz, na minha face, calou-se,
porque só o vento me trazia a fala,
vinda de algures,
com notícias de alguém,
indo para além, para outro ouvidos, num país.
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO.
de quando em imprevisto quando chega-se transpirado de correr a manhã de domingo e ao abrir dos olhos o sempre súbito pânico da certeza do possível cancro na flor
a que pétalas nos podemos socorrer, onde estão, entre que páginas de que livros as guardamos
e uma vontade enorme de chorar e pedir desculpa
(casadesãodinis,porto.21dejaneirode2007)
19 janeiro, 2007
ESTABILIDADES
As carruagens circulavam num
desenho contínuo
divergiam entre linhas paralelas.
Cruzavam sempre as horas no minuto axial
na impressão instável de velocidades
verdes e amarelas
azul violeta azul azul.
Ulisses, amarrado a um poste antigo, negava
que as tintas voláteis pudessem ser suas.(de que lado surges?)
O herói de mil ardis culpa-se
para a eternidade
por ter cegado Polifemo.
Por isso pinta os comboios enquanto
foge na vertigem
contemporânea de
uma espécie de maldição.
janelas
Estes cercos que me encontram
que me deixam e me empurraram
que a cerca que do nada gotejou
e os dedos que do nada me encontraram
Esta cerca do infinito me limita
esta alma dos teus dedos me arrasta
este eco que da cerca me tolera
este eu que dos dedos me afasta
Este ser que sentindo me tomou
em sentido que nao minto, me perdi
esses dedos que me tocam que eu sinto
estes dedos que me encontram que eu senti.
liquida-mente
( vestida de peles. assim amo).
um: ...descasco a laranja. choro sobre a beleza que se abre. líquida.
(sei: que não estou perdida.)
dois:... escrevo coisas porque evito a proximidade dos outros.
porém. sei:
preciso dos outros para não me sentir perdida.
três:...memorandum:
no
espaço-vazio-entre-as-linhas estendo a mão às palavras.
18 janeiro, 2007
17 janeiro, 2007
AULA DE GUITARRA. concerto barroco.
cortina de chuva como cortina do banho ou cortina da janela e desta para a varanda.
é possível imaginar um país onde chova tanto se deprima tanto.
existe de certeza uma terra que se afoga abrindo a torneira (o teu corpo na banheira).
onde a água tenha a força de paredes (o meu peso sobre o teu).
e te aprisione a tarde inteira dentro do quarto como no interior de uma caixa apertada (esmago as pernas sobre o dorso que me ofereces).
escureça tão depressa: bicho preso escapa para fora em raiva ou para dentro em melodia fininha serra mais ou menos triste.
tristinha.
não é saudável a grilheta mas pode ser arriscada a fuga.
não há garantias de que te chegue hoje.
não sei se me receberás despindo-me com beijos a pele ensopada.
quanto mais se puxam mais justos se tornam até fazer sangue em espécie de paixão: não forces os nós da corda.
soltar-te-ei depois pela manhã, amanhã ou depois.
escuta o concerto barroco que deixei a soar.
(casadaconchada,coimbra.17dejaneirode2007)
16 janeiro, 2007
AULA DE GUITARRA.
15 janeiro, 2007
14 janeiro, 2007
13 janeiro, 2007
11 janeiro, 2007
FURTO.
um reduto como entrar no quarto e abrir a boca e água fresca;
a vida resolver-se como o passar da mão sobre o pêlo do tempo.
suave.
sem outro problema.
sem versos.
coimbra. 12dejaneirode2007.
claridade - acto 3 - acção secundária
era tarde... e alguém chegava,
a luz de fora, impulsos de cor
pedaços de sombra furagida
vagas de odores e amuos,
e andava, bailava, badalava
um zás, um foco e um arrasto
um golpe na penumbra, que vibra
pedaços de carne que ganham vida
vagas de força energia em movimento
os fios que esticam, e termina.
10 janeiro, 2007
Ensaio à minha loucura
Parece que me perdi lá pelos lados do nada, como alguém que procura o inatingível e sonha com o pecado de quebrar todas as regras da lógica, talvez por não haver lógica que supere a loucura, talvez por a razão ser inimiga da lógica, talvez por tudo estar longe do seu lugar, talvez por eu continuar aqui e continuar a fazer ouvidos de mercador à força que me quer fazer avançar, talvez eu sonhe com o pecado, não acredite que exista lógica ou seja adepta da loucura…
Mas não será tudo isso o mesmo?
Talvez a loucura da minha existência seja o desejo de procurar o impossível, o pecador dos meus sonhos…
Mas como é possível sobreviver assim?
A razão diz que sobreviverei como todos os outros… já a loucura pergunta-me se sobreviver faz parte dos meus planos futuros… Como em tudo sempre o fiz... persigo a loucura até não mais poder. Que seja isso o final ou o renascer, que seja a metáfora ou a hivernação, o pecado salvador ou a razão tresloucada, que seja uma vida contada aos palmos ou uma voz que grita PARA!... Que tudo isto seja o delírio de alguém que apanhou aquilo que persegue ou lamentos de um eterno perseguidor… seja lá o que for… eu não quero mais saber…
3/1/2007
3:31h
PS: Voltei ao mundo dos vivos...
09 janeiro, 2007
08 janeiro, 2007
FURTO. acto2. cena 3. esta noite disse.
CABíRIA
éramos aqueles que entravam, a que erguia o busto,
ou os outros que saíam, deuses devassos, numa náusea intermitente
estávamos também no centro dos
beijos
sem direcção
dos corpos abandonados
em lânguidos enjoos
de tudo.
fomos uma deslocação
em hipnoses matinais de amantes electrónicos
um movimento
quase nada
desfasado
uma perda de sentido (nunca nos vemos, mesmo quando).
havia por lá corpos travestidos que juncavam os caminhos
e passámos, então, a encenar madrugadas (sem reflexos?)
em todas as ruas
envoltos em flores artificiais.
do amor possível
trouxemos a eternidade, confundida na luz intermitente.
06 janeiro, 2007
uma rosa
E de espinhos nasceu uma rosa
E de uma rosa nasceu um sonho
Do sonho nasceu a ideia
E da ideia a determinação
A determinação fez a obra
E da obra nasceu a crítica
A crítica fez o homem
E o homem arrancou a rosa
12-01-2002
05 janeiro, 2007
trans parências

querido X
( eu não sou da conchada, seja lá o que isso for).
vivo no porto mas nasci em trás-os-montes. e é de lá que, de facto,
sou. ando talvez um bocado(!) fora do mundo. porque cresci "fechada".
e, porém, de tão fechada, abri!
nasci quase na fronteira. no planalto mirandês, um lugar entre, entre-
tanto!!!:
entre também rios. o douro, esmagado nos montes e o rio sabor (sim, sa-bor!),
oliveiras, gado, serras. anões. almas vagabundas. e trigo. e serras de novo. de cores no fundo
dos dias longos.
dias iguais excepto nas cores. e serras de novo.
donde as trovoadas se desprendem e abrem noutras cores ainda e em mundos selvagens,
únicos. alucinantes!!!
lia torga e imaginava o que haveria para além dos muros estreitos do quintal.
as luzes pra lá da fronteira, vistas da casa da
minha avó, afligiam-me e apertavam-me o peito de ânsia e assombro. ficava a olhá-las
lon-ga-men-te...
venho tacteando devagar o fio com que me puxaste. toquei, de olhos fechados, o tecido final e
entrei nessa água que
corre e se inclina para os lugares que mais desconheço.
precisamente. no tempo perfeito.
beijos. ( de cores, as que apanhares entre a água e os olhos)
sou a luci
FURTO-escuridão- acto 2 - p(l)ano ambiente
04 janeiro, 2007
claridade - acto 2 - p(l)ano de ambiente
FURTO.
03 janeiro, 2007
claridade, acto 1 - p(l)ano social
Solta-a, salta-a, pula-a pelo mundo, pelo menos do lado de cá do horizonte, que o dia já pulou para o outro lado, e agora, só a noite resta aqui. É morna, é doce, e apetece, um refúgio que foge e acolhe ao mesmo tempo, que ilumina no escuro, e me torna atento à luz fugidia que a lua me habituou... serena. Eu queria solta-la, rodopiar e habitar um espaço mais ali, ao de longe, perto da vista ainda, expirando um outro reflexo, inflexo, salta-la, por aqui e por ali, entre panos, entre fios, como uma luz em arrasto gravado num papel que brilha hoje, e amanhã, e depois... por ora, a penumbra habita, em quotidiano territorial, entre a luz da lua, e o dia do outro lado do pano...
02 janeiro, 2007
aqua est... plus et plus
01 janeiro, 2007
rasgos
Vou deixar o farrapo velho
vou rasgar trapo novo.
Enquanto isso
vou vestir um fato de super-herói
sem capa
essa
só a uso